Vazio

Esta sensação permanente de vazio está a dar cabo de mim.
Tudo o que faço parece-me pouco.
Tudo o que tenho parece-me nada.
Enrosco as mãos uma na outra, remexo os dedos por entre recordações que mais parecem areia de tão difíceis de agarrar que são.
Os joelhos apertam-se um no outro, os cabelos pendem no rosto como se de um escudo se tratasse, não há máscaras, nem sonhos.
Apenas o vazio. Ecoa em mim, move-se.
Há um fogo que me queima por dentro, uma chama que não se apaga mas que não tem por onde sair.
Os beijos incendeiam, repelem o mais frio dos seres, as mãos têm urgência de um corpo, todo o corpo.
Os olhos, fitam, impacientes.
Não espero. Não pode esperar.
Preciso de respirar. Fechar os olhos. Mas se inspiro o fogo acalma-se.
Não quero respirar.
Quero arder neste desejo que me consome.
Cada golfada de ar que bebo congela a chama que teima em resistir.
Olho para o céu. O mar confunde-se com ele. Cinzento. Como eu.
Quase que me percebe, que me lê.
A música acalma o fogo que me quer consumir, não oiço o mar mas vejo-o.
Ondas revoltas e sem direcção rebentam na areia, formando pequenas bolhas de espuma, perco-me nessa pureza por instantes, uma leve brisa percorre-me a face, fazendo-me tocar-lhe.
As costas da minha mão. Humedecidas. Frias. Choradas. Lá está.
O vazio. Sem me dar conta, apodera-se. Raiva. Pontapeio as bolhas.
Para que serve admirar tudo?
Para que serve arder sem lenha para consumir?
É o mesmo que desenhar na areia para ver o mar apagar. Aperto os braços nas minhas mãos.
Abraço-me.
De olhos fechados revejo tudo o que tive e que já não existe no meu conto de fadas.
Apesar de tudo ser igual.
Tenho duas hipóteses: Ou luto pelo que já tive, ou morro nesta busca sem final á vista.