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Voyager

Apanhei o autocarro, na paragem mais cheia de pessoas, de pensamentos, de vidas, consegui não pagar bilhete, o dinheiro é escasso e a viagem é longa, talvez me apeteça parar por um café e trocar dois dedos de conversa com a tarte de mirtilho que há tanto espero, se chegar lá (onde?). Muitas vozes ecoam à minha volta, não distingo palavras, nem de onde vêm, se das infinitas pessoas que nas cadeiras à minha volta criam excertos da sua vida ou se da minha mente esquizofrénica que tende a não me dar descanso. Com sorte poderei ouvir as musicas que me peço até decidir chegar. Ponho os headphones nos ouvidos, os unicos que tenho, velhos, pretos, quase desmontáveis, não fosse umas camadas de cola ressequida a agregar os lados. Estaria prestes a entrar naquele habitual mundo abstractamente seguro, não fosse a minha vontade de encontrar a insegurança de um novo cenário, de uma nova realidade. Talvez essa seja uma palavra demasiado crua (realidade), ao invés disso, prefiro pensar em encontrar um novo presente, não sabendo eu que já o tenho na mão. Passeio pelos caminhos do denominado futuro, ainda antes de lá chegar, mas é para isso que servem as longas viagens, para perder a noção do tempo e do espaço, ao ponto de confundi-los com a nossa existência. E questionar-mo-nos. Gostava de aqui ter uma folha de papel, aliás, um bloco, e uma caneta, para poder ordenar estes pensamentos nefastos e cansativos que tenho. Ainda bem que a musica tem o poder de os descomplicar, de os simplificar, até de os abafar. O cansaço que acuso faz-me ouvir todos aqueles pensamentos alheios como histórias de embalar, aborrecidas, a tal ponto que acabo por adormecer ao escutar as ultimas notas de Hong Kong. Dizem que o sonho tem diferentes etapas de concretização, onde dá asas à descoberta do inconsciente, quando o consciente descansa, relatando-nos em mensagens turvas através do sub-consciente, aquele que nos priva de clareza até no limbo do sono. Sem saber, procuro essa clareza, esmiuçando-me ao inconsciente na espera de respostas, ou pelo menos de novas perguntas e na ãnsia de saber aquilo que penso que não sei. (...)

É chegada a chegada, o desembarque, o mundo parece outro, pelo menos o cheiro é. Terei acordado num caminho paralelo, ou serei eu um outro eu, num outro sítio, num outro tempo? Só poderá responder aquele que se perdeu no caminho, que seguiu outro, talvez, aquele que adormeceu no autocarro, ou que nem chegou a entrar, o outro que não é mais.

Se o encontrares, diz-lhe que o espero, mas avisa-o: não voltarei a sê-lo.

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sábado, maio 8, 2010 - 16:21

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Corona

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Prosas/Pensamentos Voyager 0 432 11/19/2010 - 00:05 Português