Palavras afiadas

A vida passa...
Sou pote
Onde jorram água suja
E sem reclamar
Infecto minha garganta
De podridão.

Continuo amarrada
Nessa cifra de um milhão
De laços que prendem
Minhas idéias
Como a lança prende os pés do senhor.

Crucificaram-me na palavra
E pregaram em meu espírito
Duras ilusões, inútil mentira
Eu sem poder ter ira,
Tranquei-me no meu próprio peito.

Com chave de navalha fecho
Meu coração duro
E faço de um bloco inquebrável
Milhões de pedaços de gelo
Arranco-me de minha carne,
Mas preciso de sua mão para
Tapar as feridas.

Estou perdida no infinito,
Perdida dentro de mim mesma.
Quero dizer,
Quero expressar,
Mas existe um pedaço de concreto
Em minha garganta.

Kath França