CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Há dias assim

Há dias assim
em que me sinto projectado como uma mola
para além do infinito
mas volto a mim, perscruto no meu interior e reparo
que é inútil fugir. Cumpre-se o Destino.
Por isso opto por ficar aqui, parado, estático no tempo
enquanto a outra parte de mim teima em partir
para o incerto, o indefinido, o lugar nenhum.
Cumpre-se a sina.

Quando o sol da tarde já morto no seu esplendor tinge
de sangue rubro – um misto de amarelo e vermelho –
a linha do horizonte
para lá das janelas abertas dum mar de sonho distante,
medito nos dias em que o céu e o mar se fundem
num só. Extravaso-me de dor para dentro de mim
e sofro. Sinto as horas correrem nesta imobilidade
em que vivo, vazio, sinto-me impotente
por não conseguir segurar aqui o tempo
e impedi-lo de partir.
Queria segurá-lo, algemá-lo comigo e poder-lhe dizer
que aprendi com ele mistérios de vidas.
Experiências inúteis que servem apenas para meditar.
Que não são remédio para coisa nenhuma.

Há dias chuvosos e de sol, dias primaveris e verões
dias de todas as estações…
Mas os dias piores são aqueles que nascem
sem serem de estações de ano nenhum.
São dias cinzentos. Dias de treva cinzenta.
Mórbidos, mesmo. São dias que não pertencem
a qualquer estação do ano. São apenas os dias
das estações do calendário da minha vida. E doem!
Doem esses dias cinzentos que começaram no tempo
longínquo em que ainda pensava que era possível
caminhar erecto, de pé, e romper essa espécie de treva
cinzenta que me penetra até ao mais longínquo osso
deste corpo coalhado em mim.

Há dias assim.
Dias cinzentos em que me projecto, em imagem,
para dentro das imagens que nascem em mim
– imagens que já não são de futuro nem coisa
nenhuma que seja luminosa –.
E busco-me em memórias passadas.
E envelheço no tempo. Devagar, mas envelheço!
Envelheço como o anoitecer de todos os dias
de todos os meses e anos que cai devagar no meu Cais.
E neste meu envelhecer, parte de mim envelhece
comigo – é a parte que prefere ficar –
e a outra parte do meu ser teima em partir
para lugares que nem conhece de lugar nenhum
no seu espírito doido de aventura.
Estou dividido por dentro.

Submited by

quinta-feira, maio 12, 2011 - 11:38

Poesia :

No votes yet

AlvaroGiesta

imagem de AlvaroGiesta
Offline
Título: Moderador Consagrados
Última vez online: há 12 anos 26 semanas
Membro desde: 12/28/2009
Conteúdos:
Pontos: 305

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AlvaroGiesta

Tópico Títuloícone de ordenação Respostas Views Last Post Língua
Ministério da Poesia/Meditação 1. Instável 0 534 05/04/2011 - 22:20 Português
Ministério da Poesia/Meditação 10. Ao cimo da sombra 0 808 05/08/2011 - 23:13 Português
Ministério da Poesia/Meditação 11. A sangrar orgias 0 502 05/08/2011 - 23:14 Português
Ministério da Poesia/Meditação 12. Um lugar de luz e espuma 0 1.642 05/08/2011 - 23:16 Português
Ministério da Poesia/Meditação 13. O dia em que a noite ficou mais escura ainda… 0 1.978 05/10/2011 - 09:53 Português
Ministério da Poesia/Meditação 14. Irados os sentidos… 0 1.475 05/10/2011 - 09:54 Português
Ministério da Poesia/Meditação 15. As silhuetas diluem-se… 0 1.435 05/10/2011 - 09:56 Português
Ministério da Poesia/Meditação 16. O absurdo “nada” 0 1.328 05/10/2011 - 09:56 Português
Ministério da Poesia/Meditação 17. Onde as areias da praia se esquecem do mar… 0 1.685 05/10/2011 - 09:57 Português
Ministério da Poesia/Meditação 18. Onde o mar ladra furiosamente, a vida 0 1.345 05/12/2011 - 10:25 Português
Ministério da Poesia/Meditação 19. Multiplicam-se os suplícios… 0 1.292 05/12/2011 - 10:55 Português
Ministério da Poesia/Meditação 2. O mar 0 474 05/04/2011 - 22:26 Português
Ministério da Poesia/Meditação 20. Deito-me nesta cama de espinhos... 0 1.330 05/12/2011 - 10:58 Português
Ministério da Poesia/Meditação 21. Atropela-se o amanhecer… 0 1.275 05/12/2011 - 11:00 Português
Ministério da Poesia/Meditação 22. Ah! “se um dia a juventude voltasse…” 0 1.395 05/12/2011 - 11:03 Português
Ministério da Poesia/Meditação 23. Nos umbrais da noite, o sonho 0 1.934 05/13/2011 - 13:20 Português
Ministério da Poesia/Meditação 24. Nos umbrais da noite, o homem… 0 1.524 05/13/2011 - 13:22 Português
Ministério da Poesia/Meditação 25. Últimos resíduos da memória 0 1.808 05/13/2011 - 13:23 Português
Fotos/ - 2561 0 893 11/24/2010 - 00:51 Português
Ministério da Poesia/Meditação 26. Ficaram apenas as memórias 0 1.710 05/13/2011 - 13:26 Português
Ministério da Poesia/Meditação 27. Paredes meias habito com o sonho que cresce… 0 1.350 05/13/2011 - 13:27 Português
Ministério da Poesia/Meditação 28. Sóis oblíquos 0 1.402 05/13/2011 - 13:28 Português
Ministério da Poesia/Meditação 29. Depois que a névoa cai sobre a terra… 0 1.732 05/13/2011 - 13:30 Português
Ministério da Poesia/Meditação 3. Manhã glacial 0 660 05/04/2011 - 22:29 Português
Ministério da Poesia/Meditação 30. No fundo do tempo a minha alma vazia… 0 1.368 05/13/2011 - 13:31 Português