Uma certa e razoável sujidade do amor
No encanto das coisas há implicito uma certa sujidade, uma certa sujidade da vida, uma certa e rázoavel sujidade do amor. O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos. Há no trabalho da reprodução da natureza uma sujidade legitima. O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. O encanto dos homens e das ruas, o encanto dos olhos e o encanto do coração é haver uma certa sujidade dos costumes. A imoralidade das palavras, a navegação dos dias, a ausência do tempo na suja ocupação da inutilidade dos poetas. A inutilidade de tudo é o sentido para não se invadir, para não se violar a tranquilidade dos pássaros e das árvores e das nuvens que passam no céu e que passam na admiração dos peixes e que estão no despertar e no adormecer. O encanto das coisas é elas terem a morte. A morte é a vida a sujar-se e o nosso renascer é um grito sujo, tão sujo como um rufar de tambores, tão sujo como uma paixão selvagem, um modo sujo de andar de crescer. O encanto das coisas não é elas terem fogo ou elas terem água. Não é o encanto das coisas haver solidão nas casas e cinza nos borralhos para santificar a agilidade dos gatos. O encanto das coisas é a contradição entre as mãos e os pensamentos. Na cinza do borralho a agilidade dos pensamentos. O encanto sujo das coisas é elas perderem o sentido de rumo absoluto. O sujo encanto das coisas é haver quem derrube muros, quem derrube leis. O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza. lobo 05
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 2122 reads
Add comment
other contents of lobo
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Aforismo | a fome é mais afiada que o siso | 4 | 1.990 | 03/26/2010 - 18:33 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Não tenho força nem canções imortais | 5 | 2.073 | 03/23/2010 - 00:32 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Ó Senhor Manuel | 3 | 969 | 03/22/2010 - 19:10 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Enquanto rezo me masturbo | 6 | 2.318 | 03/19/2010 - 21:11 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | Il fiume non è alla porta…. | 1 | 3.315 | 03/19/2010 - 20:31 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | E quando tudo o que se finge é imperfeito | 6 | 1.833 | 03/17/2010 - 13:36 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Era um cavalo louco | 3 | 1.963 | 03/14/2010 - 16:38 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | Não sei se vou esperar | 1 | 2.481 | 03/11/2010 - 09:41 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Sobre a margem dos olhos | 2 | 1.885 | 03/09/2010 - 13:05 | Portuguese | |
Poesia/Comedia | Embebedou embebedar | 3 | 2.027 | 03/09/2010 - 02:12 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Os olhos molhados por causa da solidão da cidade. | 2 | 1.528 | 03/08/2010 - 00:45 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | ... | 2 | 1.370 | 03/07/2010 - 04:37 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | A Iinfancia debaixo da lingua | 2 | 1.623 | 03/07/2010 - 04:20 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Um dia havemos de regressar ao primeiro cansaço do mundo. | 4 | 2.513 | 03/06/2010 - 23:32 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | O poeta encontrou a sombra das árvores | 2 | 2.195 | 03/06/2010 - 23:23 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Agora estamos apagados. | 2 | 1.628 | 03/06/2010 - 23:18 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Os esquecidos da terra | 2 | 1.311 | 03/06/2010 - 15:02 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Lembras-te quando tinhas outro corpo. | 1 | 1.639 | 03/06/2010 - 03:22 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Nós atravessamos para o outro lado | 1 | 1.557 | 03/05/2010 - 13:56 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | A ultima ceia do marinheiro de venesa | 1 | 2.941 | 03/05/2010 - 13:54 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | A Mulher que tinha semen nos olha parte 4 | 3 | 2.877 | 02/18/2010 - 21:51 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Fado | 3 | 1.726 | 02/12/2010 - 11:39 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | Se eu fechasse os olhos | 2 | 2.131 | 02/08/2010 - 00:25 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | era uma vez uma couve | 2 | 2.466 | 02/04/2010 - 21:44 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | aLMA | 4 | 1.338 | 02/04/2010 - 20:09 | Portuguese |
Comentarios
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza.
Sem réstia de dúvida!!!
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
Gostei.
Na verdade "O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. ...
O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos."
Talvez seja esse o encanto da tua escrita.
Abraço