Quanto mais conheço os homens...

Apanho os mesmos raios…
O sol.
Atendo uma chamada nos estorvados resquícios de deus.
Vou pintar os lábios encarnados.
Descarnados…
Cortar aos gomos o beijo e pingar um apoquento de sangue nas faces ocultas da rua.
Dá-lo a comer aos milagres.
Assim multiplicado o gesto do pão até beijar o mundo inteiro.
Havia muito barulho…
Telefono para dentro de mim a pagar ao destinatário.
Ocupado.
Quando atendo não me oiço…
Tenho um tribunal interno com sentenças arrependidas e contas por pagar.
Já olharam a cara dos homens quando atendem ás chamadas de deus…
Pois é aí onde estou, sem dinheiro, sem trabalho, com gritos de sétimo andar com o elevador parado.
Um dia tive um cão…
Pintava-lhe os lábios encarnados dos meus, então deus atendia, entendia…
Não tinha gentes entristecidas nem inércias bronzeadas…
Dei ao cão o meu número.
Ligava-me de manhã e à noite quando entrava.
Ligava-me nas horas sós com uns olhos tão imensos a inundar os meus desertos.
Não tinha a face oculta dos homens que nunca beijam…alguém.
Jamais teve tribunais ou sentenças arrependidas nos seus lábios encarnados…
Dos meus.
Atendo uma chamada nos estorvados resquícios de deus.
Cortou o telefone aos homens para que não possam atender-se…entender-se.
Apanho os mesmos raios…
O sol.
Vou pintar os lábios encarnados.
Descarnados…
Cortar aos gomos o beijo e pingar um apoquento de sangue nas faces ocultas da rua.
Dá-lo a comer aos milagres.
Um dia tive um cão…
Agora ninguem me liga.