Noite no campo de ti.
Deitar-me-ei em teu solo por apenas mais um dia, pois me cravam as rosetas de tua pele seca, desidratada e febril. Não posso adormecer em teus sonhos e sentir-me refeita ao amanhecer, pois teus espinhos ficam-me incessantemente e mesmo quando não estão, as pústulas que ficaram das perfurações anteriores vertem o sal de minha alma criando crostas azedas em minha costas nuas. Sou um ser em chagas, cuja saliva esgota-se a cada arranhão de teu solo. Não consigo mais sobreviver nesta sépsis de pelos nús que revoltos grudam-se às lembranças do que um dia foi um chão de alabastro alvo e liso.
Hoje sou o resultado da lepra que carrego, juntando os pedaços que doei pelo caminho, mas como carne espúria, foram queimados na fogueira das vaidades. Então cauterizo-me com as incandescentes brasas dos desejos que queimam minhas mãos burras, que querem agarrá-las sem proteção. Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se, nem catre para esgotar-se até a hora da morte. Por isso permaneço sobre este capim selvagem em que me deito e finco-me com as rosetas de teu chão. Mas mesmo assim, é melhor que estar morta e apenas, apenas a lembrança longínqua de pele exposta ao confortável sol primaveril na enseada do teu mar, onde deitávamos e éramos perfeitos e intocáveis, me conforta, a lembrança de nossos frutos que nasceram fortes a guisa do chão árido de nossas almas, me fazem ainda querer respirar.
Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer.
Há de se saber o destino da vida? Muito menos o caminho da morte. Estamos à deriva deste vendaval que varre os campos sem piedade.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1592 reads
Add comment
other contents of analyra
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Tristeza | Limbo da existência. | 2 | 1.180 | 06/12/2010 - 19:39 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Idiossincrasias. | 3 | 1.009 | 06/12/2010 - 11:03 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Flores do outono | 1 | 1.872 | 06/12/2010 - 04:34 | Portuguese | |
Poesia/Amor | carta ao sentimento Amor. | 14 | 1.255 | 06/11/2010 - 22:04 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Por teu olhar | 8 | 1.420 | 06/10/2010 - 05:30 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Deixem-me em paz!!!! | 9 | 1.399 | 06/10/2010 - 00:34 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Prometeu apaixonado | 7 | 1.988 | 06/09/2010 - 15:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Máscaras e metáforas... | 1 | 1.355 | 06/08/2010 - 11:29 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Amores. ( dedicado a PoetisaVony ) | 4 | 1.563 | 06/05/2010 - 14:44 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Morre o amor | 3 | 2.245 | 05/28/2010 - 15:14 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Nas asas do teu amor. | 7 | 1.785 | 05/17/2010 - 15:22 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Longe do corpo perto da alma ( duo com o Poeta Nuno Marques | 9 | 1.433 | 05/16/2010 - 14:59 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Pedaço da alma | 4 | 1.130 | 05/15/2010 - 13:45 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Espera | 6 | 1.662 | 05/13/2010 - 21:00 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Meu ninho | 2 | 1.631 | 05/13/2010 - 20:41 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Verdade | 0 | 1.112 | 05/13/2010 - 15:43 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Tua boca | 8 | 1.725 | 05/13/2010 - 15:20 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Diga-me? | 5 | 1.768 | 05/13/2010 - 05:08 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Faça | 5 | 1.020 | 05/11/2010 - 10:21 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | A morte do sonho (dedicado a Nuno Marques) | 4 | 2.155 | 05/10/2010 - 12:52 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Cansaço | 11 | 1.601 | 05/09/2010 - 15:17 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Máscaras da arte. | 4 | 1.138 | 05/08/2010 - 14:22 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Entretenimento da Razão | 2 | 1.780 | 05/07/2010 - 20:48 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | O poeta (dedicado) | 16 | 1.452 | 05/07/2010 - 19:38 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | último Post ( Discussão literal) | 11 | 1.425 | 05/07/2010 - 19:34 | Portuguese |
Comentarios
Re: Noite no campo de ti.
Tão triste que chega a doer-nos,
tão belo que me deixa sem palavras.
Gosto muito também de te ler neste registo.
Um beijo, Ana e... força!!!
Vóny Ferreira
Re: Noite no campo de ti.
"Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer."
Em teu texto, uma imensa dor e uma sempre esperança, força que nos permite continuar!
Um beijo, amiga, no aguardo deste mágico remédio!
Lila.
Re: Noite no campo de ti.
Um capitulo sugestivo, numa prosa intimista e alucinante na forma e na acção.
Sempre fantástico te ler!
Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se