“O amor quase perfeito”
Decidi viajar, embarquei, naquela manhã quente de Agosto, num ano que sucedeu há muito tempo, no navio “O Segredo dos Mares”. Abri os cordões à bolsa e presenteei-me com uma viagem há muito desejada e cismada: um cruzeiro pelo mar Mediterrânico. “O Mare Nostrum” originalmente chamado pelos romanos. Mês de Agosto particularmente quente, tendo o mar profundo como chão e o céu profuso como tecto. Acomodei-me num camarote onde a luminosidade natural era bastante ténue, e descansei... Foi no restaurante do barco que me descobriste. Assomei-me da entrada, vestia um vestido preto, simpatizo com tonalidades escuras mesmo no Verão, um pouco perdida, um pouco constrangida, tu compreendendo a minha ânsia ofereceste-me o lugar vazio de gente à tua frente.
Foste o primeiro e último amor quase perfeito que um dia encontrei numa sala de jantar quase perfeita, num momento quase perfeito. Perguntaste o meu nome e invariavelmente questionei o teu:
- Aldo. Murmuraste tu por entre esses lábios grossos e vermelhos que logo me apeteceu morder. Dos teus olhos de cor cega brotaram dedos que quase soltaram o meu vestido preto. Compus o vestido e sente-me. Coloquei o guardanapo em cima de meu regaço…estremecido. Solicitamos ao empregado de mesa lagosta a qual regamos com champanhe…soberbo!
Parte das nossas vidas permaneceram gravadas na mesa aveludada de carmim, qual mesa de jogo, que dispúnhamos como cúmplice.
Dancei, melhor… voei! Entrelaçaste teus braços musculados à volta do meu vestido preto e mostraste-me o céu cravejado de luzes salivantes.
Terminamos em quarto, não crescente de Lua mas, no meu. Desnudaste-me o corpo e a alma, cegaste-me com a claridade de teu penetrante olhar, adensaste meu desejo de sentir um corpo masculino em crescente luxo de prazer. Quase perdi os sentidos quando invadiste minha intimidade.
Passámos as férias apreciando a companhia um do outro. Estavas só e eu também, procuramos o barco onde afundaríamos as nossas mágoas. A tua mulher tinha desaparecido por entre as mãos de um francês numa viagem que, precisamente fazia um ano, tinham efectuado à cidade Luz. Paris teve um efeito colateral na tua vida levaste o teu amor com o intuito de dar novo alento ao teu casamento quase arruinado mas, a tua cara-metade esvaiu-se e considerou o olhar de um francês qual cavaleiro andante que toma a sua princesa das garras do vilão. Isto foi o que me contaste no entanto, só anos mais tarde é que revivi as tuas lamentações. Afinal o problema da tua estimada esposa era, no fundo, a falta de afecto, de carinho, de compreensão com os quais me brindaste nos dias passados entre o mar e o céu mas, elementos fundamentais que se esvaíram nos teus casamentos.
Foram quinze dias claríssimos que iluminaram minha alma e trouxeram uma brasa ao meu coração. Foste a bússola que durante algum tempo conduziu meu corpo, por entre os mares da paixão, ávido de desejo de ser tocado, amaciado, beijado. Cantaste e encantaste meu ser “nuvem quente e fria” que alegrou meu tempo noite e dia. Embriagada pelo teu charme, possuíste meu corpo carente de homem sensual. Há muito tempo que minha aura não jubilava tanto, e o meu existir não evolava tanto brilho e energia.
A viagem terminou, foi tão gratificante e deslumbrante que nos dias subsequentes vivi flutuando entre os dias extasiados que me proporcionaste. O telefone não parava acordavas-me com palavras mimosas e deitavas-me com mimosas palavras. Aproveitávamos todos os momentos com o desígnio de mantermos nossos corpos quentes e aconchegados, os fins-de-semana eram só nossos, amávamo-nos no jardim, em casa, na praia, era irrelevante, tínhamos de legitimar o nosso amor diante da Rosa-dos-Ventos.
Casamos mas, não fomos muito felizes para sempre…
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Comentarios
Re: “O amor quase perfeito”
Ui Isabel que maravilha de texto
Uma História que te saiu do nada ou de tudo o que se pode ter nos encontros e nas lembranças também
Gostei muito
Obrigada por participares
beijo
Matilde D'Ônix
Re: “O amor quase perfeito”
Parabéns pelo belo texto.
Um abraço,
Roberto
Re: “O amor quase perfeito”
Gostei muito!
Re: “O amor quase perfeito”
Cara Isabel,
Ocorreu que vi e estive presente em cada passagem do texto. Um conto primoroso; repleto de informações e muito bem escrito.
Fico de certa maneira numa contida empolgação, por saber que há talentos de sobra no WAF. Evidente que és um desses exemplares de grande capacidade.
Abraços, Robson!