Fim

É engraçado. Sempre consegui escrever para todos de alguma maneira. Ora através de poesia, ora através da prosa. É simplesmente improvável que eu não seja capaz de escrever esta carta. Mas a verdade é que escrever esta carta implica tanto, mas tão pouco... Ah, na verdade escrever a carta é fácil. É só premir algumas teclas algumas vezes e temos uma carta feita... mas pensar no teor da carta torna-se bem mais complicado e doloroso. Sinto que ao escrever esta carta estou a dizer adeus à minha antiga vida, à vida onde fui feliz, onde tinha tudo...
Nunca fui mulher de depender de alguém. Muito cedo tornei-me independente dos meus pais e isso fez-me feliz. Mas no entanto, quando me apaixonei percebi que preciso sempre de depender de alguém. Preciso de amar alguém e sentir que ele também me ama. Ah, como é bom sentir que alguém nos ama. Pena que depois de um desgosto, nunca vem algo bom.
Eu amei profunda e intensamente um rapaz. Tinha mais maturidade que ele, mas no entanto amava-o muito. Nunca soube explicar o porquê. Ele não é assim muito bonito, nem muito inteligente, nem muito atlético. Não é nada demais, mas eu achava-o perfeito. E foi perfeito para mim durante muito tempo. Ele fez-me a mulher mais feliz do mundo. Mas também me fez sofrer muito. Mesmo quando mantinhamos uma relação ele magoava-me mais vezes do que me fazia feliz, mas isso nunca me fez pensar sobre a nossa relação. Mas ao que parece isso fez com que o amor dele por mim, algo que dizia que era algo muito forte, desaparecesse de um momento para o outro. Eu, que sempre respirei amor por ele acabei com o coração destroçada, estilhaçado. Como é que uma pessoa que era boa amiga, boa namorada, voluntária e boa aluna, acaba destroçada, magoada, traída por quem nunca pensou. Porque me usaste e não conversaste comigo como eu custumava fazer? Será que não havia remédio possível para nós? Será que um dia não te vais arrepender dessa tua decisão que não pareceu ser sólida?
No entanto, a pouco e pouco, meses e meses passados, fui recuperando. Voltei a ganhar a vontade de viver outra vez, mas não estava preparada para me voltar a relacionar e quem sabe apaixonar novamente. O problema é que o amor não escolhe as alturas e acabei ficando apaixonada por quem não devia. Tinha finalmente achado um rapaz com os mesmos gostos que eu, com as mesmas opiniões que eu, e ele queria ser meu amigo. E como eu precisava de que alguém fosse meu amigo. Mas a pouco e pouco, meses foram passando e a nossa relação foi evoluindo. Nunca passámos de amigos. Ele não estava preparado para uma relação, e na verdade, eu também não. Não consigo esquecer o antigo amor, mas no entanto, quando estou com ele só consigo pensar nele e só consigo sorrir. Ah, como aquele homem tem a capacidade de me fazer rir e de me deixar feliz numa questão de segundos. Eu sei que não estou preparada para uma relação, mas sempre que penso nele tenho tanto calor a inflamar dentro do meu corpo. E não, não é só desejo. Eu gosto dele. Não sei se o amo, mas a verdade é que não quero saber. Agora só consigo pensar nele e imaginá-lo ali sempre com um sorriso para mim, mas eu não posso sentir isto por ele. Ele não sente o mesmo que eu. Como sei? Apenas sei. Essas coisas sentem-se e eu sinto que ele pode até gostar de mim, mas não vai dizer porque eu sofri muito e ele não quer estragar a nossa amizade colorida. Mas na verdade, eu não posso contar-lhe. Seria injusto da minha parte pedir-lhe algo que não é reciproco. Mas custa tanto.
Porque é que depois de uma desilusão fui apaixonar-me por quem não devia? Devia de ter aprendido a lição e nunca mais me apaixonar. Mas eu sou uma pessoa que não consegue não gostar de alguém. Se conseguisse tudo seria bem mais fácil. Eu devia de conseguir mandar no meu coração. Devia de ter-me apaixonado pelo rapaz mais novo que eu e assim seria feliz. Ele ama-me, gosta mesmo de mim, e mesmo sem nos falarmos, continua a amar-me. O problema é que eu não consigo gostar dele e sei que se forçasse as coisas iria começar a odiá-lo. Devia de me apaixonar pelo novo rapaz que comecei a falar e assim seria feliz. Ele gosta de mim e parece-me ser divertido. Certamente que iria ser feliz. Porque não consigo apaixonar-me por quem eu quero? Eu não posso gostar do meu amigo colorido. Eu não quero gostar dele. Mas o problema é que gosto.
 

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Martes, Abril 5, 2011 - 00:48

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