Nesta margem...

Nesta cidade cinzenta, desfaço-me em movimentos inúteis; o pedacinho de mar que me foi dado é um amante que se debruça sobre a minha janela. Olho o céu, os meus olhos cruzam-se silenciosamente com as gaivotas desvairadas gritando á fúria das ondas...hoje não há areia, tudo é vendaval.
Sinto-me á margem de mim...por muito que estenda os braços, não me consigo alcançar...
Nas pontes a desmoronar, tento ouvir a música que os relâmpagos dos teus olhos não me deixa esquecer: o trago da paixão da vida. Imaginada. Efémera...
Choro uma lágrima vadia e teimosa; tão teimosa quanto a minha ilusão de amanhã, tão vadia quanto as margens de mim...
Desenho-te com os meus dedos, e o mar ainda agitado diz-me que estou a mentir. Quando o dia já não é, cala-se a cidade; cala-se o oceano de todos os pássaros...sento-me na areia que o mar levou, ainda às margens de mim...

Em "Salpicos de mar e fogo"