Rua do Encontro

Escura era a noite
O silêncio envolvia a terra

Casas adormecidas
Casas elevadas
Altas e pesadas sobre a quadra deserta
Fui à janela
Olhei para fora
A lua, irrompendo de uma nuvem
Um clarão úmido, tímido-nevoento

Um gato cinzento
Numa cerca cinzenta
Num quintal cinzento

Um rosto cintilava na noite como uma estrela

Olhos pacientes pousaram suavemente nos meus
Na boca uma sede maravilhosa
Violento delírio

Guarde o fôlego para perdê-lo inteirinho - Pensava

Vesti o velho casaco marrom
Pus o velho sapato marrom
Olhei para o relógio de pulseira de couro marrom
O mesmo em que olhava horas cem vezes por dia

Suspirava com toda a sinceridade de meu coração

Estava frio. Uma geada cortante
Tocou com o indicador os firmes e apertados lábios
Seu olhar dirigido e interessado
Sem erotismo óbvio
Nem ofensivo

Sem dizer uma palavra, como se a alma não tivesse percussão
Rimos sem rir
Tocamo-nos sem tocar
Um desacordo suave

A transitoriedade do amor
As inúmeras potencialidades do afeto
As múltiplas possibilidades do desejo.