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Confissão

Está-se a aproximar o inverno, e no entanto, apesar de ter motivos para sorrir, nao o consigo fazer. Não que tenha assim tantos motivos para sorrir, até porque acabei por descobrir que já não tenho amigos, já não tenho namorado. Mas com isso, eu estou bem. O problema é que começam a dizer que eu mudei, quando simplesmente deixei de fingir. Leio e leio sobre doenças relacionadas com depressão. Cada vez mais desconfio que sou bipolar. Ontem estava tão animada, tão feliz, e hoje estou mesmo apática, com vontade de chorar. Não sei o que se passa comigo. Acordo com dor de cabeça. Ou melhor, esta dor já é minha companheira no dia a dia. Mas por vezes começo a sentir-me zonza, com tonturas. Se calhar, isso é de comer pouco. Odeio comer e ultimamente não tenho andado a alimentar-me nada. E para que a minha mãe não se preocupe, minto e digo que comi, quando isso é tudo mentira. Sinto-me gorda. Tento tudo por tudo, mas não consigo emagrecer. Até parece que estou a engordar cada vez mais. Eu devo sofrer de hipocondria. Eu quero tanto sofrer de uma doença que me mate, para não ter de aturar mais ninguém. Realmente... isso já não é de agora. Eu sempre pensei em ter doenças tipo cancro e problemas graves. No entanto, acho que evitava falar sobre isso porque sabia que a minha mae principalmente, iria sofrer muito. Mas eu não consigo. Eu hoje sonhei, ou imaginei (já nem sei), que estava no Ipl e que começo a sentir-me mal numa aula. No intervalo vou ao carro, para ir comer algo (visto que saí de casa sem comer). E entao, depois de comer, continuo a sentir-me zonza e a ver tudo turvo. Espero mais um pouco, mas não aguento e telefono à minha mae a dizer que estou a sentir-me mal. Quando falo com ela, desmaio. Passado algum tempo (eu acho), volto a acordar e oiço a minha mae a berrar ao telemovel. Eu falo para ela e tento sair do carro, mas perco as forças quase que caía no chão, se não me apoiasse ao carro. A minha mãe aparece lá com um amigo meu que trabalha com ela. Eles falam comigo, mas eu já não os oiço. Apenas digo que preciso de ir entregar um trabalho e tenho de ir fazer uma apresentação. Chamam uma ambulancia e lá vou eu, sempre a pedir a minha mae para ir levar o trabalho. Já no hospital, sozinha no quarto, o médico dá-me uma noticia: Eu tenho um tumor no coração e na cabeça. O problema é que para ser operada tinha de se pagar e teria de estar um ano sem fazer praticamente nada. Ou seja, tinha de desistir de tudo. Lembro-me de que contei à minha mae e ao meu amigo. Mas, eu não iria contar. O médico, como eu sou maior de idade, não podia contar sem a minha permissao. Eu não iria fazê-los sofrer assim tanto por minha causa. Fingiria que estava tudo bem, mesmo sabendo que o meu estado estava a agravar.
Que treta! Que raiva! Apetece-me tanto bater em alguém. Ou então cortar-me. Estou a tentar conter-me para não fazer mais nenhum corte no meu pulso. Cada vez que corto, mais fundo se torna. E então, isso torna-se complicado de esconder. Mas sabe tão bem quando sinto a lâmina a passar pela minha pele. É como se não tivesse problema nenhum. O problema maior é ter de esconder e a vergonha. Eu quero contar a alguém, mas não confio em ninguém a esse ponto. Porque é que o corpo não me obedece? Eu queria morrer e assim não teria de me preocupar com o que eu já fui e já não sou. Mas no entanto, não consigo matar-me e deixar todos mal por minha causa. A minha mãe está convicta de que eu estou bem, mas eu não estou. Eu sinto-me uma pessoa superficial, em que tenta esconder tudo de todos. As minhas gargalhadas já não são as mesmas. Já não tenho um brilho nos olhos (se tiver é das lágrimas que querem escorrer). Já não tenho vontade de tirar medicina. E o mais provável é que não vá tirar medicina. Acho que me vou ficar apenas por enfermagem. O que me aborrece mais é a minha maneira derrotista. Eu estou a desistir de todos os meus sonhos. Eu sou tão fraca que nem consegue admitir que está mal. Porque é que estou assim? Por causa do fim do namoro? Não, porque eu percebi que eu já não sentia o que um dia senti por ele. Por causa da universidade? Não, isso pode-se sempre mudar, e as disciplinas até que são porreiras. Por causa da conversa com uma suposta amiga? Isso foi o que me deixou magoada hoje. Ora que porra! Eu convido as pessoas. Elas não me respondem e depois ainda têm a lata de dizerem que eu não os convidei. Vão todos lixar-se. Eu tentei! Todos diziam que eu me andava a afastar e então eu contrariei essa tendência. Não tenho culpa se já não somos amigos. Entao porque é que não se comportam como adultos e admitem que a culpa não foi só minha. Porque a culpa de tudo o que me acontece é minha e só minha. Não são azares, nem má sorte nem nada. A culpa de tudo o que me aconteceu na vida é minha. Até porque a vida é minha. A culpa das cicatrizes que tenho nos pulsos é minha. A culpa de criar um muro estupidamente alto e de ninguem o conseguir ultrapassar é minha. Mas eu sempre fui assim. E as pessoas aceitaram-me assim. Ora, estão à espera do quê? Que eu continue a ser a mesma depois de tudo? Ora porra! Fiquem a saber que eu precisei de vocês e vocês estiveram metidos nas vossas vidinhas. Não me venham agora dizer que me apoiaram, quando isso é tudo menos verdade. Eu, quando desabafava com alguém, era sobre algo muito superfulo. E agora, este ano tem sido uma mudança interior para mim. Foi uma mudança profunda. Por isso, não me podem pedir para continuar a ser a mesma pessoa e falar sobre o que sinto. As pessoas que se dizem minhas amigas não iriam entender. Ninguém entende. Eu sinto-me sozinha, mas às vezes, acho que é preferível estar sozinha. Até porque, como eu sou uma artista. Tenho tanta imaginação e criatividade, nunca estou totalmente sozinha. Tenho as minhas personalidades que nunca me deixam sozinha. Até agora, conheço 4 personalidades minhas. 1: Anokas, foi a personalidade que desenvolvi quando fui para o 10ºano e que era a rapariga amiga de todos, que ajudava todos e nunca se chateava com nada. Estava sempre a sorrir. 2: Ana, esta personalidade foi desenvolvida quando comecei a namorar com ele. Afastei-me mais das pessoas e apenas vivia para ele. Não me preocupava com mais nada, a não ser com ele. Tornei-me mais sociável, não tanto envergonhada, mas continua com muitos problemas em comunicação. 3: Ana Filipa. Eu criei esta personalidade depois de ter acabado a relação. Comecei a desenvolver medos de sair de casa. (Ainda hoje, acho que não consigo dormir fora de casa, sem me sentir mal). Chorava por tudo e por nada, comia que me fartava e andava completamente destruida fisica e psicologicamente. Essa personalidade deve ter sido a primeira a ser criada por mim, só que eu só me apercebi dela naquele momento. 4: Ana FM, esta personalidade é uma fachada. Para todos, mostro-me alegre, as minhas gargalhadas são falsas e já não sou envergonhada. Finjo que não tenho problemas e que nada me afecta, quando tudo me magoa, um pouco mais. Até mudei fisicamente para poder viver mais intensamente esta personalidade. Mas isso não ajudou. Sinto-me uma pessoa suja, corrupta, apesar de não ter cometido nenhum crime. Mas, só com esta personalidade é que eu consigo ir para o IPL todos os dias e não chorar.
Claro que ninguém vai ler isto. Provavelmente, passados uns dias, eu vou apagar isto e apenas eu me lembrarei do que escrevi. Tal e qual, como aconteceu quando me comecei a auto-mutilar e a descrever os meus dias. Achei que escrever me fazia bem, mas não faz. Apenas me magoa um pouco menos. Realmente é curioso. Gostava de saber se eu tenho alguma doença. Um tumor, uma transtorno. Tenho quase a certeza de que eu não bato bem da bola, por isso, não há duvidas. Mas eu não me quero tratar e sinto como se ninguém se importasse com isso. A minha mãe, por muito que ela goste de mim, ela não me leva a um médico. Ela não tem coragem para me levar lá e o medico dizer o que ela receia ouvir. A minha vida como a imaginei está destruída, por isso, eu não quero magoar mais ninguem. Vou ficar sozinha. Sozinha com as minhas personalidades. Vou cortando-me enquanto for inverno. Se for verão, não saio de casa e ando sempre tapada. Pensei que com a entrada de um amigo na minha vida, eu conseguisse esquecer isto, mas não consigo. Por mais que tente, eu acabei tornando-me muito carente e fiquei a achar que gostava dele. Não sei se gosto ou não, mas provavelmente é só carencia. Mas ele não gosta. E então, isso faz-me ficar revoltada comigo mesma. Porque começo a imaginar situações que nunca iram acontecer, até porque não podem acontecer. Se eu tivesse coragem, espetava a porcaria do x-ato no meu coração e morria ali. Mas não consigo! Nem é muito por mim, é mais por causa do sofrimento que eu iria causar aos meus pais.
Realmente, até que tem piada. Eu não quero que ninguem perceba o quão triste e mal eu estou, mas lá no fundo era só isso que eu queria. Queria que alguém me conhecesse o suficiente para me dizer: “Tu não estás bem. Vamos ao médico”. Não é perguntar se é melhor eu ir ao médico. É claro que eu vou sempre dizer que não. Gostava de levar uma pessoa que se tivesse cortado tambem como eu. Acho que ouvir outros testemunhos faz-me bem. Não é para deixar de cortar. Porque o haveria de fazer? Quando eu me corto, tenho o total controlo sobre tu. E isso sabe tao bem. E o prazer ao sentir a lâmina a rasgar a pele é como se fosse a melhor coisa do mundo. Todos os meus problemas apagam-se como por magia. É pena é não ser algo permanentemente. Porque sinto a necessidade de me cortar? Porque tenho tanta vergonha, mas para me cortar, não há vergonha. Vou ficar com os meus braços cortados, todos marcados e ninguém vai perceber isso. Por vezes, apanho as pessoas a olhar para mim, e acho que elas descobriram, mas elas não dizem nada e falam normalmente, por isso, não podem ter descoberto. Se à uns anos me dissessem que eu, um dia iria sofrer de auto-mutilação, eu diria de certeza que estava maluco. Eu nunca concordei com essa cena de me cortar. Na verdade, continuo sem concordar. Mas é a unica coisa que me faz parar de sofrer. É como se um misero corte e o sangue a sair parasse tudo o que eu senti até então.
Ninguém vai ler isto. Ninguém vai saber o que tenho. Vou ficar assim eternamente, porque eu quero. No entanto, tudo o que eu precisava era de alguém que realmente olhasse para mim e percebesse que não estou bem. Isso fazia-me sentir menos sozinha.
Isto é tão irónico. Às vezes tinha bloqueios criativos e não conseguia sair deles e agora, tudo o que eu quero é não imaginar e não consigo. Só imagino e imagino. Por isso, se existe o destino, se existe Deus ou se existe alguem ou algo, façam com que me concretizem este meu desejo: Quero ficar doente com tempo de vida limitado. Quero ver a vida com outros olhos e esquecer aqueles que um dia me magoaram. Não quero guardar rancor de ninguem, mas às vezes é tão complicado.
Nem a porcaria de um livro as editoras conhecidas querem publicar. É porque eu andei enganada este tempo todo. Eu realmente sou uma pessoa que não presta mesmo. Se houvesse um caixote do lixo de humanos, eu propria me mandava para lá.
Até um dia, eu que nao seja tão complicado de viver,
Ana fm
 

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terça-feira, março 8, 2011 - 21:37

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