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A morte de Sofia 2.ª parte

Enquanto flutuo nesta escuridão que parece não ter fim, pergunto-me o que terá a morte me reservado e relembro momentos de minha infância até o da minha morte. Eu não fui uma pessoa feliz, esta é a verdade cruel que tenho que admitir e dizer para mim mesma. Tudo bem, ninguém é completamente feliz nesta vida, mas penso que seria bom que eu tivesse sido um pouquinho feliz para não ter chegado aonde cheguei pensando que tudo que levarei para o infinito serão más lembranças e a tristeza pela vida que eu poderia ter vivido mas não vivi. Muito cedo, comecei a saber o que é ser infeliz, incompreendida e rejeitada.
Quando eu ainda era bem pequena, meu pai estava sempre zangado comigo. Eu não entendia o porquê, porque eu queria vê-lo contente e ansiava por suas palavras carinhosas. Entretanto, ele vivia me dando broncas por coisas que eu nem entendia direito. Em compensação, minha irmã mais nova ouvia dele todas as palavras de estímulo. Ele vivia nos comparando, esta era a verdade. Enquanto minha irmã ouvia que era esperta, inteligente e fazia tudo direito, eu quase só ouvia que era lerda, burra e idiota, não sabendo fazer nada. Houve vezes também em que ele me bateu. A primeira vez, foi quando eu tinha seis anos, mas foi totalmente sem motivo. Eu estava num quarto escuro, ajoelhada, tentando ajeitar uma maria-chiquinha que tinha arrebentado e ele apareceu. Pensei que ele iria me dizer algo, mas ele apenas se aproximou e me deu um murro nas costas com toda a força. Eu comecei a chorar imediatamente e ele disse: "Não faça mais gracinha com ela não, viu?" Gracinha? Que gracinha? Eu não tinha feito gracinha com ninguém! Mais tarde, depois de ter chorado muito, fui à sala, onde ele estava com mãe e falei: "Mãe, pai deu um murro nas minhas costas!" Mãe olhou para ele e falou:"Você deu um murro nas costas dela?" Ele riu e mentiu, com uma cara extraordinariamente cínica:"Não, dei só um tapinha no bumbum, nem doeu." Hoje, tenho certeza que foi a partir deste momento que comecei a odiá-lo com todas as minhas forças. Outra vez que ele me bateu sem motivo foi quando estavámos na casa de praia de minha tia. Eu brincava ao lado da porta aberta da cozinha e ele veio me chamar dizendo que era hora de entrar. Eu fui entrar pela porta da cozinha e ele me deu um belo murro nas costas. Entrei chorando e depois falei a mãe, que só disse para eu tomar cuidado para não apanhar de novo. Ouvi-la dizer aquilo me doeu mais do que o murro que ele me dera, porque ela, sabendo que eu apanhara sem motivo, parecia não se importar.
Quanto a mãe, embora ela não ficasse me chamando o tempo todo de burra e idiota como pai nem zombando de mim como minha irmã, também era dura comigo e me bateu várias vezes. Numa vez, ela me bateu por eu ter molhado a cama. Noutra, porque ela queria que eu fosse ajudar minha irmã a se vestir e, como não fui a tempo, ela me deu um tapa muito forte. Não pediu desculpas nem quando soube que eu não atendera logo porque não ouvira direito. E ela ainda reclamava que eu era lenta para entender as coisas. A primeira surra que ela me deu foi para tomar banho. Puxou meu rabo-de-cavalo com força demais e saiu me batendo na frente da minha prima e da minha avó materna, que estavam nos visitando. 
Eu sempre era desfavoravelmente comparada à minha irmã e às outras crianças. Todo mundo era mais inteligente, bonito, esperto e sabia fazer mais as coisas do que eu, que era lenta e calada. Minha irmã chamava a atenção por ser muito branquinha dos olhos verdes, o que fazia todos dizerem que ela era linda. Quanto a mim, eu não ouvia isso com frequência. Ouvia mesmo é que era desajeitada e feia. E eu pensei que as pessoas não gostassem de mim por eu ser muito mais morena e de olhos escuros. Comecei a me refugiar na fantasia, imaginando-me mais clara, de cabelos lisos e cor-de-mel, alegre e conversadeira, cheia de amigos e com pais e irmã carinhosa. Eu odiava ser morena, pensava que ser morena era feia. 
Outro problema foi que comecei a engordar e meu pai e minha irmã só viviam zombando de mim, chamando-me de gorda, burra, bobalhona, idiota. Minha irmã adorava me perseguir pela casa e me chamar de feia, gorda, doida, negra e cabelo pixaim. Meus pais não faziam nada. Aliás, meu pai dizia que minha irmã fazia aquilo comigo porque eu era idiota. Às vezes, eu não aguentava e batia nela e nós brigávamos. Mãe aparecia e dizia que não importava quem tinha começado. As duas iriam apanhar. E mãe me dava chineladas na cara e na cabeça. Uma vez, ela deu uma chinelada na minha cabeça com tanta violência que meu óculos caíram no chão. Ainda bem que caíram no tapete, ou teriam quebrado.

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terça-feira, fevereiro 10, 2015 - 12:42

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