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Por Ti Seguirei... (11º episódio)

(continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/47148.html)

Choveu profusamente durante toda a noite e início do dia. Como estavam instalados no topo de um pequeno promontório, não penaram com a acumulação de águas e lamaçal.
O caminho até à castra romana seria bem diferente: o solo estava como uma pasta mole contínua, com grandes poças plantadas amiúde.
Decidiram partir. Optaram por um percurso que, inicialmente, os afastava do destino, para depois tomarem o trilho que ligava Sekia ao campo fortificado, e assim iludir os inimigos.
Estava tudo pensado, dentro do possível. Tentariam entrar no campo com o máximo de elementos permitidos. De todo o modo, quem fosse autorizado a aceder ao reduto entrincheirado dos Romanos deveria absorver e registar mentalmente todos os pormenores do lugar e, sobretudo, descobrir onde retinham os prisioneiros. Este era o ponto fundamental e sem o qual toda a estratégia seria inútil. Se necessário fosse, haveria que despoletar uma qualquer acção que possibilitasse arrastar a presença no campo e por lá deambularem até alcançarem esse objectivo imprescindível.
Embora a dificuldade de completar a distância, tendo mesmo os cavalos ficado atolados por diversas vezes, o séquito alcançou a entrada principal da fortificação romana a meio da tarde. Eram dez: o pretenso casal mercador e oito lacaios. Ficaram um pouco afastados do portão, à entrada da ponte de madeira que vencia o declive do fosso externo.
Gurri fez sinal a um legionário que estava de sentinela, pedindo para se aproximar. O soldado mandou-o avançar.
- “Sou Gurri, o mercador. Procuro Máxilio. Disseram-me que estaria aqui a cumprir serviço.” E adiantou mais: - “Venho de Roma e trago-lhe notícias, enviadas pela família dele.”
- “Espero que sejam notícias péssimas. De preferência, que obriguem essa besta a partir. É um verdadeiro animal, até com os camaradas de armas. Não confio nele e, na verdade, não sei se confie em ti também, já que vens da parte dos dele, que devem ser todos uma corja.”
- “Nada tenho com essa gente. Apenas faço o favor – bem pago! – de lhe trazer as novidades. Não te direi quais são, mas talvez sejam do teu agrado…”, disse Gurri, com um piscar de olhos para o interlocutor.
- “Por Saturno, vou já enviar alguém a avisar o tratante”, respondeu a sentinela, com alguma esperança de ver Maxílio deprimido e, quem sabe, mesmo a despedir-se dali. – “Espera junto aos da tua comitiva.”
Não demorou muito a que o próprio Maxílio surgisse na embocadura da cerca. Viu-se que sentia o mesmo pelo legionário que o mandara chamar. Trocaram olhares feros quando se cruzaram. Avançou ao encontro dos Celtas.
- “Cheguei a pensar que o medo vos impedisse de cá vir. Afinal enganei-me. Prossigamos então o que acordamos. Ireis comigo à minha tenda, vós os dois e não mais do que outros dois, como guardas. Teremos de ser breves e concluir o negócio antes que comece a levantar suspeitas. Sigam-me os quatro.”
Quando se chegaram ao legionário que permanecia na entrada, Maxílio fez uma cara de nojo e atirou-lhe: -“Estes mercadores vão comigo lá dentro. Vêm de longe e têm muito para me relatar. Vou conceder-lhes um breve descanso e alguns mantimentos.”
-“Sabes que isso é irregular. Os civis só podem entrar no campo sob condições muito específicas e com ordem superior”, replicou o outro.
-“Cala-te obtuso, prostituto! Olvidaste que me deves 200 sestércios, perdidos no jogo dos dados?! Queres que tos exija aqui e agora, imbecil?! Neste momento, sou eu o teu superior e digo-te que olhes para o lado e assobies. Vou passar com esta gente e ficas mudo e ceguinho, ouviste?!”
O legionário assim fez, virou-se para o Sol e manteve-se calado e quieto. De facto, tinha uma razão muito pessoal para desejar o desaparecimento de Maxílio.
Entretanto, Rubinia não deixava de estar, desta feita, verdadeiramente nervosa. Sentia a presença de Tongídio e receava não se conter se o visse. Teria de ser forte e manter a charada. Logo, logo, estaria nos braços do seu marido. Alépio pressentira-lhe essa fraqueza. Colocou-lhe a mão no ombro e apaziguou-a: - “Tu vais conseguir. Não será agora que deixarás cair essa tua força admirável. Lembra-te que já falta pouco…”.
Dentro do perímetro da fortificação, a organização era perfeita e seguia a regra: As vias cardo e decumanus traçavam os eixos centrais do espaço, segundo as quais, em linhas paralelas e perpendiculares, se dispunham as tendas. Ao centro e na encruzilhada encontrava-se o pavilhão principal, onde se concentrava o governo.
Enquanto percorriam o cardo, para Norte, os Celtas gravavam tudo o que viam. O privado de uma Legião era algo fabuloso e que impunha respeito. Centenas de tendas, exactamente espaçadas umas das outras, perfeitamente alinhadas e, gravitando à sua volta ou ocupando-as, milhares de homens desenvolviam diversas actividades e aprestavam-se a várias artes. Era uma verdadeira cidade.
Já nas proximidades do muro extremo, oposto ao que atravessaram à entrada, viraram numa das vias à direita e continuaram no encalço dos aposentos de Maxílio.
O Romano tinha prevenido os colegas de tenda que fossem dar um passeio e só regressassem bem tarde. Queria ficar a sós no abrigo.
O interior da tenda era absolutamente díspar da ordem reinante no espaço externo comum: pertences pessoais, roupas, armas e demais bens estavam completamente desorganizados, misturados e espalhados por todo o lado.
Maxílio desocupou uma das liteiras, tirou de uma bolsa os objectos de ouro e espalhou-os sobre a superfície de couro que servia de colchão.
-“Cá estão as minhas belezas! Digam lá que não são de fina lavoura? Apreciem e despachemo-nos.”
Gurri disse a Alépio e a Bragi, tratando-os como servos e aproveitando para os enviar para o exterior: -“Vocês os dois esperam lá fora. Rua!”. E depois que saíram sentenciou: - “Não podemos confiar em ninguém. Se nos vêm com muito valor, são bem capazes de nos cortar a garganta enquanto dormimos.”
Depois de se mostrar muito interessado nos artigos, analisando-os cuidadosamente, Gurri fez a sua oferta: - “Damos-te 10 áureos e 50 denários pelos 15 anéis e estes 2 torques. O resto não nos interessa.”
“Estás demente, ó Celta?! Só os dois torques valem isso! Tratemos disto de forma ajuizada que eu já estou a perder a paciência!”
O Vacceu, na realidade, queria ganhar tempo, para que os dois companheiros dispersassem a tagarelar, de modo casual, pelo campo. E conseguiu.
-“Talvez tenhas alguma razão. Mas sabes que o negócio não se confere de razão. Apenas se baseia na oferta e na procura. Há neste momento, por causa das guerras, muita oferta. Todavia, está bem, subo a parada: dou-te 20 áureos pelo conjunto. É pegar ou largar.”
-“Raios! És um bárbaro tinhoso, filho de uma mula casmurra! Pensava ter aqui a minha aposentação. Assim, ainda não chega. Hum… está bem, selemos o trato. Tenho de me livrar disto.”
Mal acabavam de fazer a troca, ouviram uma voz: - “Olha lá Maxílio, estes dois passarões Celtas afirmam que estão contigo. Andavam a vadiar pelo campo. Apanhamo-los e trouxemo-los até ti. Por acaso não sabes as regras?”
-“Márius, meu bom amigo, ainda bem que os encontraram. Estávamos exactamente aqui preocupados com o que teria acontecido a esses servos deste mercador, que veio até mim, nas graças de Mercúrio, para me trazer notícias da minha saudosa mãe. Está doente, a pobre…”
-“Deixa-te lá de falsas comiserações, que eu conheço-te bem. Põem-nos a caminho extramuros, enquanto não sofres as consequências.”
Maxílio, que já tinha o que queria, apressou os Celtas a saírem do campo.
Quando regressava para dentro, dirigiu-se novamente ao legionário que havia vexado e disse-lhe: - “Olha lá, percevejo de prostíbulo, hoje estou um benemérito: logo vou dar-te oportunidade de recuperares os 200 sestércios, ao jogo. De qualquer forma, aparece, para jogar ou para pagar.” Cuspiu e entrou.
Alépio piscou o olho a Gurri e Rubinia e incitou o cavalo a passo de trote. Já tinha as coordenadas que pretendiam sobre os prisioneiros. Encontraram-nos quando vasculhavam o campo. Enquanto não foram interpelados, embora sempre sob observação desconfiada dos romanos, que os julgavam mercenários a seu soldo, lograram conhecer bem as áreas estratégicas da toca do inimigo.

(continua…)

Andarilhus
V : VIII : MMX

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quinta-feira, agosto 5, 2010 - 16:21

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