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A visita
Abriu os olhos na primeira hora do dia. Espreitou o céu através da janela do quarto. Nem uma estrela. Estava frio. Acendeu um cigarro no minuto seguinte a ligar o aquecedor. Não tinha lareira. E ele gostava tanto do calor dela e do crepitar da madeira entre chamas. Não havia nada daquilo que gostava. O que tinha era o necessário para manter vivo o corpo. Respirar. É tão fácil inspirar e expirar pode tornar-se tão doloroso. É injusto para um ser humano ter de limitar-se apenas a isto, como um cão. Parar de o fazer torna-se uma solução sedutora. A ideia do alívio que proporciona apresenta-se à porta do desalento, irresistível. Ele fita-a fixamente, sem sinal de surpresa. Não sabe ao certo se está acordado ou em algum tipo de delírio. Ela sorri-lhe da porta. Estende-lhe os braços. Embriaga-o com promessas de cura e garantia de liberdade. De perda de consciência. Promete-lhe que ao cessar as funções do seu corpo toda a tortura vai terminar. Ele avança dois passos na sua direcção. Detém-se a meio do quarto. Pergunta-lhe como fazer. Ela diz-lhe que se sente e pegue no caderno vazio que está pousado na pequena mesa junto da cama. Dita-lhe o início de uma carta que visa explicar a sua partida na companhia daquela mulher sem nome, mas que ele sabe muito bem quem é. Não entende como tantos a podiam temer. Apresenta-se tão bonita e compreensiva! Está ali na porta, de olhar terno, a oferecer-lhe a esperança. A cura! Prossegue escrevendo, deixando claro que tudo está bem. Escreve aos amigos, um por um. Deixa-lhes um abraço forte e salienta que foi melhor assim. Aos irmãos mais novos diz que os ama além da compreensão e que embora os esteja a deixa sempre sentirá orgulho neles. Pede ainda que os seus livros sejam cremados junto com o seu corpo, para que se misturem as cinzas e feche o ciclo. Que façam com elas o que quiserem depois. Lamenta não merecer o suficiente algum dia ser amado por alguém, incondicionalmente. Lamenta não ter sido Pai.
A mulher continua na porta olhando-o pacientemente. Diz-lhe que escreva tudo sem pressas. Que está ali para o levar. Ele agradece e pede desculpa. Ele pede desculpa muitas vezes. Responde-lhe que fique tranquilo. Reafirma que não há problema. Diz-lhe convictamente que não vai desistir dele. Ao ouvir tanta certeza na afirmação, as lágrimas escapam-lhe e percorrem a face. Foi bom ouvi-lo e prossegue a carta com maior determinação. Deseja o melhor aos parentes e aos responsáveis pela sua existência. Só não lhes agradece. Ainda assim, demonstra consideração por todos quando, escrita a carta, optar por comprimidos no lugar de facas. Por respeito a eles, que ficarão responsáveis pela cerimónia de despedida, quer estar apresentável. Ela concorda, diz-lhe ser a melhor maneira e promete segurar-lhe na mão enquanto sentir a vida findar-lhe e adormecer. A gratidão perante tanta bondade é notória na sua expressão quando assina e lhe diz que está pronto. É-lhe então solicitado tranquilamente que se levante e prossiga na direcção da porta, na direcção dos seus braços, para que num abraço a faça entrar. Avança convicto. A sua vontade foi reforçada. Diz adeus em silêncio a tudo aquilo a que não teve coragem de se referir na carta. A dor persiste mas não faz mal aguentá-la apenas mais uns segundos. Vai terminar.
É interrompido pelo telefone. Porcaria de aparelho! Esqueceu-se de o desligar. Ela, pacientemente diz-lhe que atenda. Obedece. Quanto desliga olha novamente para a porta. Está outra vez sozinho. A dor permanece. O desespero assola-o e é uma vez mais vitorioso. Porém, quase por instinto, olha para a carta e repara que junto da mesma está um bilhete:
- Desculpa. Precisei sair por uns momentos. Não te preocupes. Amanhã volto para te levar. Prometo!
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