Viver é sonhar sem ter sonhado

Viver é sonhar sem ter sonhado
Num sonhar acordado, porém atento
A um futuro difuso mas confinado –
– Balão moldável aprisionando vento.

A vida é uma praia, dual, ímpar,
Exigindo dualidade humana para conquistar
O horizonte-sonho, sepúlcro-mar.
É ultrapassar o areal terreno, tentando
O mar revolto ou sereno, universo líquido,
Ciclicamente ondulado na incerteza
Da certeza de marear, cheia ou vazia.

O horizonte não é o sonho,
Mas a ilusão matreiramente sonhada –
– Névoa-noite despertada.
Imaginação humanamente fértil,
A intersecção do Tudo ao Nada.

Viver é sonhar sem ter sonhado.
É pôr horizonte ao horizonte dado,
Por mais que preciso para viver
A Praia da Vida.
É nadar mar fora, no antever
Simbólico da Margem escura,
E não insuflar esse balão até ruptura.

Desejar chegar a Ti, não desejando,
Relutantemente ansiando.
Loucura lúcida mediana,
Eternamente humana,
Confinando a existência sonhante
Por Além-Mar…

E cair no Mar-Abismo…
…é castigo Teu?