O SOPRO DA "BOA MORTE"
O sopro da 'boa morte'
A cidade estava bem tumultuada, era a reunião dos aniversariantes septuagenários, no CLUBE PRINCIPAL.
Uma festa merecida para eles, afinal, a partir daquela data comemorativa dos 70 anos, renasceriam para outra vida...
Todos se juntavam para o grande acontecimento: filhos, netos, bisnetos ( se eles já tivessem ), sobrinhos, primos e apenas um amigo ( a )que fosse muito mais próximo do que os outros. Isso até gerava um desconforto da parte daqueles amigos, que não eram escolhidos para tal momento. A chegada do convite para a festa era aguardada por eles. E quando isso não acontecia, havia uma tristeza estampada na face dos amigos de tantas décadas...
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A festa era uma tradição desde o século XXII, quando a hecatombe nuclear aconteceu, e a população mundial foi reduzida a dois terços referentes ao século anterior.
As gerações que vieram depois dessa época, sofreram mutações na pele, na cor dos lábios e não possuíam mais cabelos.
A pele era desprovida de pelos, fosse qual fosse a raça, os lábios das crianças tomaram um tom alaranjado e todos eram calvos, meninos e meninas.
Mas os animais eram os que mais sofreram com a nuvem radioativa do planeta: não se reproduziam mais, ficaram estéreis...
As espécies estavam condenadas ao desaparecimento da face da Terra.
Isso agravara a fome mundial, já que os alimentos orgânicos ficaram contaminados por quase um século...
Agora, no século XXIII, a alimentação era totalmente sintética acrescida de vitaminas e proteínas, e a água era descontaminada em usinas próprias para retirada de elementos radioativos.
No mar, não existiam mais peixes, lulas, polvos...
A única predominância de vida marinha, estava nos golfinhos e baleias. Só eles conseguiram sobreviver, depois da radiação espalhada pelo orbe terrestre.
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Algumas famílias preferiam fazer a festa de seus septuagenários em casa. Todos reunidos para aquele evento tão importante. Mas nos mesmos termos de cada clube municipal:
Apenas familiares e o melhor amigo ou amiga. Era uma coisa única, e cabia apenas a quem interessasse ao aniversariante.
Dois meses antes do aniversariante completar os 70 anos, era premiado com uma viagem dentro dos destinos planejados pela família, que se juntavam para pagar o custeio disso.
E poderia levar um acompanhante consigo.
Quando voltava, a família o recebia bem e davam um almoço de confraternização com as poucas frutas, verduras e legumes que voltaram a ser cultivadas em estufas próprias para isso.
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Alfredo estava apreensivo, mesmo feliz por estar com a família naquele momento, tão esperado pela vida inteira... Ele havia escolhido sua casa para a festa, e não o clube.
As luzes foram acesas em volta da casa. Os familiares chegavam e sua melhor amiga também.
A música, era a que ele havia escolhido para o momento, o vinho servido para o brinde também. Tudo corria naturalmente...
Depois de muitas homenagens ao aniversariante, e de comerem e beberem à vontade, o bolo foi partido, o brinde fora dado, e todos foram se despedindo com alegria, mas, uma pontinha de tristeza mútua...
Era um sentimento ambíguo.
Alfredo fechou a casa, apagou as luzes, deixando apenas uma luminária que ele acendera em seu quarto, ao lado da cama, em sua mesinha, que anos antes tinha dividido com a esposa. Lembrou-se dela por um momento:
Ela havia feito os 70 anos, um ano antes dele, já havia então migrado para a nova vida... Ele se encontraria com ela certamente...
Fechou os olhos, respirou fundo, agradeceu a vida que levou, as coisas que teve, os amigos que fez, a família que formou.
Em uma oração singela se preparou para dormir.
O sopro de um vento veio pela janela...
Alfredo já dormia para acordar na outra vida, onde acharia à sua espera os entes queridos que foram antes dele...
Ele era mais um septuagenário que cumprira sua missão:
A data do aniversário de 70 anos, era a despedida do mundo, para a vida eterna, como sempre fora para todos naquela nova Terra...
Fátima Abreu
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