Sentindo

Nesta ausência dos corpos, as sensações definem-se pelo apuramento dos sentidos e esta intensidade do sentir é uma presença constante que me invade a alma e sinto-me para além deste corpo quando me encontro em ti. Penso-te e estás presente no momento, numa sintonia perfeita, os dias ganham um brilho diferente e afastam-me destes lugares sombrios e nefastos que me assolam a cada instante.
Mas o ruído de certas vozes entra.
Salto fora deste círculo mágico e aí dou comigo a pensar se isto não será fruto da minha imaginação, e que esta magia só é possível se formos criativos. Em matéria de arte, nunca me senti afortunada, para além das palavras que me escorrem dos dedos na composição de alguns versos que se tocam e se encontram numa dança singular, ou quando em criança cantava, e o meu eco expandido sobrevoava as serras e se escondia no meio dos pinhais. Eu aguardava-o numa encenação para um bailado num palco relvado, tendo como plateia os cumes mais altos das serras que me pareciam os mais ideais. O meu olhar cobre-se das cores e de certos lugares, e com estes pensamentos concluo que poderia agora pegar num pincel e delinear os traços que me chegam:

Pintaria com as cores do luar, ou então com as cores de um sol que me entra em dias pela janela do meu olhar
Desenhava-te um corpo perfeito, suavidade no andar, leveza na voz, um olhar doce e profundo, que me levaria para bem longe desta aprendizagem constante que é a vida, onde falta tudo o que é essencial: a subtil afinidade de um corpo com uma alma perene de sentimentos.

Criatividade em movimento!

Dolores Marques