Arte Poética - Capítulo V
A comédia é, como já dissemos, imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios; ela só imita aquela parte do ignominioso que é o ridículo.
2. O ridículo reside num defeito ou numa tara que não apresenta caráter doloroso ou corruptor. Tal é, por exemplo, o caso da máscara cômica feia e disforme, que não é causa de sofrimento.
3. Não ignoramos nenhuma das transformações da tragédia, nem os autores destas mudanças. Sobre a comédia, que em seus inícios foi menos estimada, nada sabemos. Bem tardiamente o arconte lhe atribuiu um coro, até então composto por voluntários.
4. Só mesmo quando a comédia assumiu certas formas, os poetas que se dizem seus autores começaram a ser citados. Ignora-se quem teve a idéia das máscaras, dos prólogos, do maior número dos atores e de outros pormenores análogos.
5. Os autores das primeiras intrigas cômicas foram Epicarmo<1> e Fórmis<2>. Assim, a comédia se originou na Sicília.
6. Em Atenas, foi Crates<3> o primeiro que, renunciando às invectivas em forma iâmbica, começou a compor fábulas sobre assuntos gerais.
7. Quanto à epopéia, por seu estilo corre a par com a tragédia na imitação dos assuntos sérios, mas sem empregar um só metro simples ou forma negativa. Nisto a epopéia difere da tragédia.
8. E também nas dimensões. A tragédia empenha-se, na medida do possível, em não exceder o tempo de uma revolução solar, ou pouco mais. A epopéia não é tão limitada em sua duração; e esta é outra diferença.
9. Se bem que, no princípio, a tragédia, do mesmo modo que as epopéias, não conhecesse limites de tempo.
10. Quanto às partes constitutivas, umas são comuns à epopéia e à tragédia, outras são próprias desta última.
11. Por isso, quem numa tragédia souber discernir o bom e o mau, sabê-lo-á também na epopéia. Todos os caracteres que a epopéia apresenta encontram-se na tragédia também.
12. Falaremos mais tarde da imitação por meio do verso hexâmetro e da comédia.
1. ↑ Epicarmo era de Cós. Viveu entre 540 a.C. e 452 a.C. Sua infância e juventude, passou-as em Mégara, na Sicília, que era colônia dória. Quando se tornou poeta, foi viver sob a proteção de Gelão e de Hierão I, tiranos irmãos que admiravam e protegiam os artistas. Epicarmo gostava de criticar os costumes bárbaros do povo siciliano e sua tendência para a gula, e seu objetivo como escritor era claramente moralizante.
2. ↑ Assim como Epicarmo, também Fórmis (séc. V a.C.) viveu nas cortes de Gelão e Hierão I. Suidas (séc. X d.C.) afirma serem dele algumas tragédias, cujos títulos cita. Aristóteles considera Fórmis um dos criadores da comédia.
3. ↑ Crates de Atenas (sabe-se que faleceu em 424 a.C.), era especialista em criação de tipos característicos, como o Ébrio.
Submited by
Poesia Consagrada :
- Login to post comments
- 955 reads
other contents of Aristoteles
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia Consagrada/Biography | Aristóteles Biografia | 0 | 1.248 | 05/14/2011 - 15:18 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Biography | Aristóteles Biografía | 0 | 4.020 | 05/14/2011 - 15:17 | Spanish | |
Poesia Consagrada/Biography | Aristotle Biography | 0 | 1.556 | 05/14/2011 - 15:14 | English | |
![]() |
Fotos/Profile | Aristoteles | 0 | 1.201 | 11/24/2010 - 00:37 | Portuguese |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXI | 0 | 1.811 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXII | 0 | 2.042 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXIII | 0 | 1.686 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXIV | 0 | 1.693 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXV | 0 | 2.047 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXVI | 0 | 1.844 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XXVII | 0 | 1.839 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo VII | 0 | 860 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo VIII | 0 | 837 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo IX | 0 | 1.167 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética -Capítulo X | 0 | 683 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XI | 0 | 1.587 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XII | 0 | 1.514 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XIII | 0 | 1.685 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XIV | 0 | 1.562 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XV | 0 | 1.730 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XVI | 0 | 1.455 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XVII | 0 | 2.071 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XVIII | 0 | 1.762 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XIX | 0 | 1.539 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Philosophy | Arte Poética - Capítulo XX | 0 | 1.966 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese |
Add comment