ELOGIOS X

10

Aos prsperos annoa da Sereniasima Princeza do Brazil
a Senhora D. Carlota

(Recitado no Theatro da Rua dos Condes, em 25 de Abril de 1801)

Tu, patente á razão, velado aos olhos,
Monarcha do universo, alma de tudo;
Immenso, que em ti mesmo apenas cabes,
Que tens no ser, na mão, na voz, no aceno
Fados, eternidade, omnipotencia,
De que o raio é pregão, e o mundo é prova:
Ah! Manda que teus jubilos sem conto,
Que elysias flôres, Zephyros do Olympo
C'rôem, bafejem de Carlota o dia;
Que o sol, que o teu reflexo a imagem tua,
Com elle avive a purpura d'Aurora,
Com elle regosije, adorne, alteie,
Gradue em divindade a Natureza,
E vá com elle, ovante, além das eras.

Próle de um semideus, esposa de outro,
(De outro, inf'rior, oh Jove, a ti sómente)
Carlota e de teus dons, de teus thesouros
Nas graças, no attractivo, a flôr, o extremo.
Qual no céo reluziu quando, inda exempta
Da corpórea prisão, sua alma bella
Serena de astro em astro vagueava,
Qual no céo reluziu, reluz na terra
Em seu candido rosto encantos brilham,
Razão lustrosa lhe atavía a mente,
Sorrisos a grandeza lhe temperam:
Tem mais sublime a indole que a Sorte,
Maior o coração que a dignidade.
Aos ais do afflicto, do infeliz aos prantos

Desde o cimo da Gloria, e da Ventura
Dá materno favor, materno ouvido,
Emulando, a par d'elle, os mil portentos
Do consorte immortal, do heróe piedoso,
Por quem, de aureas delicias esmaltado,
O céo de Lusitania as trevas déspe,
E é qual foi quando assidua primavera
Cobriu de virações, ornou de rosas
Ao tenro globo a superficie amena,
Quando em correntes susurrava o nectar,
E, o mesmo no zenitli, ou no horisonte,.
O sol benignos lumes espraiava;
Benignos lumes, como espraia a lua.
Se com pleno fulgôr prateia os mares.

Os idolos da patria, o par brilhante,
Dos mortaes o esplendor, João, Carlota,
Oh rei da Eternidade, oh rei dos Fados,
No throno avito, heroico, á sombra tua,
De seculos, e seculos triumphem:
D'elle, d'ella se esquivem Tempo, e Morte,
Dure-lhe a vida o que durar seu nome.

O Tejo, despejando as urnas de ouro,
Ás plantas lhes deponha o gran tributo,
Té que a terrestre machina abysmando,
Sorva tempos mortaes o tempo eterno.
Tua respiração, dos céos perfume,
Purifique o natal formoso, e caro,
Em que ufana, em que altiva a Natureza
Se enleva, se revê, se ri, se encanta.

Já de Saturno as épocas voáram,
Férrea, medonha edade aggrava os entes.
Ah! D'entre os mortos seculos surgindo
Envolto em rosas, o melhor dos dias,
Dos dias que perdeu console o mundo.

Taes, e tantas de Lysia as preces foram
Ante o solio de Jove, e d'elle ouvidas
Colheram n'um sorriso omnipotente
Da implorada mercê penhor e annuncio.

São mimosos do Fado, a Jove acceitos,
Cobre a sombra d'um Deus João, Carlota:
Modelo das nações ! Oh patria ! Exulta.

Submited by

Sunday, October 18, 2009 - 22:01

Poesia Consagrada :

No votes yet

Bocage

Bocage's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 14 years 40 weeks ago
Joined: 10/12/2008
Posts:
Points: 1162

Add comment

Login to post comments

other contents of Bocage

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS LVII 0 1.541 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS LVIII 0 3.014 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS LIX 0 1.170 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS LX 0 1.257 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS LXI 0 2.447 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXXV 0 1.332 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXXVI 0 1.686 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXXVII 0 1.964 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXXVIII 0 1.249 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXXIX 0 1.679 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XL 0 1.145 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLI 0 2.325 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLII 0 3.478 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLIII 0 1.078 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLIV 0 2.041 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLV 0 1.532 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLVI 0 1.817 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLVII 0 792 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XLVIII 0 1.720 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXII 0 1.522 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXIII 0 1.648 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXIV 0 1.324 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXV 0 1.401 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXVI 0 1.108 11/19/2010 - 16:55 Portuguese
Poesia Consagrada/General EPIGRAMMAS XXVII 0 922 11/19/2010 - 16:55 Portuguese