NUMA ESTRADA DE MORTE

No espelho partido
um rosto de criança,
no horizonte perdido
o corpo que balança.

Um piano velhinho
que toca a galope,
no caminho cinzento
de quem se fez forte.

A música saida
de uma harpa salgada,
no repouso de um corpo
em pedra gelada.

Um choro contido
no acorde falhado,
o suspiro tremido
de um laço apertado.

O metal das tuas mãos
falha o tiro encravado,
e a morte passeia
no seu cavalo alado.

Visto-me de arame
farpado a medida,
num traje de pele
que me deixa em carne viva.

O corpo esquecido
cala o sofrimento,
de um golpe em que o sangue 
corre para dentro.

A paisagem pintada
num único traço,
do roxo caido
no teu regaço.

O seco engolir
do corpo cansado,
do amor tão presente
no nosso passado.

Espalha-me o corpo
na madeira em cruz,
para definhar na prisão
que me afasta da luz.

No espelho encantado
vejo a cara rasgada,
que me guia até ti
por esta estrada.

Uma taça de sangue
que me leva o alento,
dos teus lábios vestidos
de veneno sedento.