A Hora


 

Pontual como o fantasma hamletiano, eis que é chegada a melancolia do crepúsculo. A triste hora em que a claridade cede lugar para a sombra que me apavora.

Tempo houve em que a Lua amenizava o breu e revelava as estrelas, mas esse tempo foi sufocado pelo cinza da vida e, agora, resta apenas a escuridão das almas que perambulam em busca de incautos retardatários.

No entanto, hoje, eis-te surgida. Como a chuva que repõe vida ao solo seco.

Sinto a seiva voltar a correr e com ela a vontade de falar, de expulsar os demônios que me corroem.

Não! Hoje, não serei assombrado pelos fantasmas cotidianos, pois sei que M. trará as poesias que foram abandonadas e que dormem nas sarjetas.

Juntarei os versos que me trouxer e farei um poema “alexandrino”; porém, apenas no nome e não no estilo, pois pouco me importa as regras e as formas. Apenas, em homenagem ao egípcio mistério que M. guarda nos negros olhos.

Falarei de rosas, luares, véus, tâmaras e seduções. E cantarei os amores exagerados, esparramados. Cantarei as camas desfeitas, as vontades satisfeitas, o fogo dos corpos e a ternura do depois. E de tantas outras fantasias, direi.

Fartei-me da sujidade dos homens e de suas vãs promessas eternas. Danem-se!

Eu quero, apenas, o pedaço de loucura que me cabe e o sacro exercício de delirar entre as inconclusas pontes do nada a nenhum lugar. Quero, tão só, sentir o teu perfume, pois em ti estarão as novas dimensões que dispensam o tempo.

Venha, voe comigo. Os limites findaram e é tempo de recomeço. Refaçamos outros jardins. Saibamos a grandeza que há no voo miúdo do colibri que nos rodeia. Bebamos à sua liberdade e vivamos a que conquistarmos, pois há, em nossa soma, a unidade que sempre se quis.

Venha, voe comigo. Seja a mulher que caminha ao meu lado, pois serão infindos os nossos caminhos e inexistentes as horas secas.

Para M.

Produção e divulgação de Vera L. M. Teragosa.

Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 12/12/2015
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (cite o nome do autor e o link para o site "www.fabiorenatovillela.com"). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

Submited by

Sábado, Diciembre 12, 2015 - 15:54

Poesia :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 7 años 25 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Tristeza A Canção de Alepo 0 4.286 10/01/2016 - 21:17 Portuguese
Poesia/Meditación Nada 0 4.045 07/07/2016 - 15:34 Portuguese
Poesia/Amor As Manhãs 0 3.453 07/02/2016 - 13:49 Portuguese
Poesia/General A Ave de Arribação 0 3.479 06/20/2016 - 17:10 Portuguese
Poesia/Amor BETH e a REVOLUÇÃO DE VERDADE 0 4.268 06/06/2016 - 18:30 Portuguese
Prosas/Otros A Dialética 0 5.588 04/19/2016 - 20:44 Portuguese
Poesia/Desilusión OS FINS 0 3.879 04/17/2016 - 11:28 Portuguese
Poesia/Dedicada O Camareiro 0 5.136 03/16/2016 - 21:28 Portuguese
Poesia/Amor O Fim 1 3.721 03/04/2016 - 21:54 Portuguese
Poesia/Amor Rio, de 451 Janeiros 1 8.712 03/04/2016 - 21:19 Portuguese
Prosas/Otros Rostos e Livros 0 3.674 02/18/2016 - 19:14 Portuguese
Poesia/Amor A Nova Enseada 0 3.963 02/17/2016 - 14:52 Portuguese
Poesia/Amor O Voo de Papillon 0 2.962 02/02/2016 - 17:43 Portuguese
Poesia/Meditación O Avião 0 3.361 01/24/2016 - 15:25 Portuguese
Poesia/Amor Amores e Realejos 0 4.688 01/23/2016 - 15:38 Portuguese
Poesia/Dedicada Os Lusos Poetas 0 3.720 01/17/2016 - 20:16 Portuguese
Poesia/Amor O Voo 0 3.497 01/08/2016 - 17:53 Portuguese
Prosas/Otros Schopenhauer e o Pessimismo Filosófico 0 5.373 01/07/2016 - 19:31 Portuguese
Poesia/Amor Revellion em Copacabana 0 3.740 12/31/2015 - 14:19 Portuguese
Poesia/General Porque é Natal, sejamos Quixotes 0 3.416 12/23/2015 - 17:07 Portuguese
Poesia/General A Cena 0 3.857 12/21/2015 - 12:55 Portuguese
Prosas/Otros Jihadismo: contra os Muçulmanos e contra o Ocidente. 0 4.124 12/20/2015 - 18:17 Portuguese
Poesia/Amor Os Vazios 0 5.094 12/18/2015 - 19:59 Portuguese
Prosas/Otros O impeachment e a Impopularidade Carta aberta ao Senhor Deputado Ivan Valente – Psol. 0 3.424 12/15/2015 - 13:59 Portuguese
Poesia/Amor A Hora 0 4.749 12/12/2015 - 15:54 Portuguese