Cristal
A vida é desequilíbrio. É loucura, desilusão, sofrimento e melancolia marcados em nós. A vida fere, cansa, vitima. Quantas vezes não somos humilhados, maltratados? Quantas vezes não fracassamos e desejamos desaparecer do mundo numa dor tão profunda e real que ninguém parece compreender? Quem nos dará as armas para combater a escuridão? Quem nos devolverá o riso? É preciso entendimento para se ultrapassarem os momentos difíceis. Falar, contemplar, sentir. Lutar para aniquilar a angústia, o que nos corrói por dentro. Voltar a estar viva para os olhares, cheiros, palavras. Tentar de todas as formas comunicar com o mundo exterior. Tudo é mensagem, até o silêncio e por isso somos incapazes de não criar. Todos os dias fazemos com as nossas acções a cama com que nos deitamos. E quando o cansaço e dor paralisam o nosso corpo temos de fazer muita força para nos levantar, sacudir com firmeza o pó das profundezas da nossa alma, alisar cada marca do que passámos com paciência, com afecto e alegria pelas experiências do passado. Aprendemos com elas, atravessando-as e ficamos seres humanos mais ricos. Quem somos? Obras-primas ou projectos imperfeitos de uma força superior? Quem nos poderá dar a resposta? Por vezes é tão difícil ir atrás do que queremos, os sonhos parecem ilusões patéticas da nossa mente. Acreditamos que os outros é que são normais, é que estão certos. E que nós estamos errados. Mas o conceito de normalidade é muito relativo e abrangente e é mais provável nos incluirmos nele do que sermos extraterrestres, que é como nos sentimos por vezes. A força parece muitas vezes estar fora do nosso alcance, arrastarmo-nos ao longo do dia para cumprimos as nossas obrigações parece ser mais do que suficiente para esgotar o nosso corpo e coração. Se há coisa que assusta muito alguém é ser induzido a dar mais de si do que se acha capaz, é ser convidado a mergulhar no labirinto de nunca se sentir bom o suficiente. E a insatisfação dói muito. É um veneno poderosíssimo de actuação lenta. Há corações que a determinadas alturas da vida se encontram frágeis como o cristal, susceptíveis de partir a qualquer momento, finos e belos porque são mais do que nunca, magnificamente humanos. A vulnerabilidade existe para ser expressa não para causar dano. Que fazer quando temos medo de quebrar? Voltar a por o cristal na fornalha a aquecer e modelar-se novamente, para assumir outra diversidade, para que brilhe novamente como os sonhos acabados de criar. Como as estrelas do Céu.
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Comentarios
Re: Cristal
"Que fazer quando temos medo de quebrar? Voltar a por o cristal na fornalha a aquecer e modelar-se novamente, para assumir outra diversidade, para que brilhe novamente como os sonhos acabados de criar. Como as estrelas do Céu."
Fantástico. As tuas palavras espelham a razão da alma, pelo menos da minha. Partilho a tua verdade.
Bjo