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Donzela aprisonada

Já sei como eu sou, meu lindo, tento fazer sempre o que é correcto, ser uma rapariga com bons príncipios e não atentar contra forças superiores a mim, porque já sei que todo o mal que causar, se vai virar contra mim numa das minhas noites de insónia, causando-me dissabores que nem vale a pena recordar. Quando me sinto a ser colocada num plano que não corresponde ao que quero, quando a pressão aperta demasiado, prefiro saltar para fora do barco. Mas apesar de tudo, sempre levei o que começo até ao fim, nunca desisti de nada (ou quase nada), posso dizer que sou uma guerreira que se renova naturalmente com a glória. Trabalho para ser feliz e não consigo ver as coisas de outra maneira. A minha cabeça anda sempre numa roda viva. Muitas vezes penso, penso, penso só para chegar à conclusão de que não devia ter feito as coisas de determinada maneira. Errei. E quando me dizem “Esquece. Já passou” eu simplesmente não consigo esquecer e sofro envolvida num martírio por mim própria criado. Se há coisa que sei sobre mim própria é que consigo criar. Crio vida. Realidades alternativas, flutuo com a imaginação, projecto universos, construo. A vida dá-me a inspiração e por vezes tira-ma mas acabo sempre por a encontrar. Alguém disse que ser escritora é como ser uma vampira: roubamos vorazmente existências, frases, paisagens, para concebermos histórias, personagens, dramas e venturas. Há tanto ainda a cozinhar nas turbinas do meu ser: imagens que me visitam em sonhos, pessoas a pedir que lhes dê vida mas cujos traços ainda não me são suficientemente nítidos, lugares a pedirem para ser descritos, sentimentos envoltos numa película de fumo, numa névoa indistinta mas que hão-de vir a mim na altura certa. Após confessar tudo isto sinto-me como se tivesse acabado de fazer o exame de consciência que vem no meu livrinho da Comunhão, olho para as orações e sinto que consigo-me entender no meu diálogo interior com O que habita nas alturas. Não me atrevo a fazer brincadeiras de mau gosto, benzo-me só de ouvir falar de magia negra, feitiços, convocação de espíritos. Sei os meus medos e lido com eles à minha maneira.Tento nunca por demasiada areia para carregar já que o corpo é que paga quando não se tem juízo. E no final de contas não me posso queixar muito, nasci com uma boa cabeça malgrado os problemas, complicações e amarguras em que já andei embrulhada até ao pescoço. Apesar de tudo o que acabou por sobrar para mim, de todas as exigências que nunca consegui satisfazer, quando me esforço, quero, posso e tenho; consigo. Tu és como uma luz que se dá qualquer coisa para manter, não és aparência, estatuto ou conhecimentos armazenados enfadolhamente e ultrapassados. És muito mais do que isso. Fujo para me encontrar e sinto-me como se fugisse de mim própria, apesar de já ter admitido que não há escape possível quando o amor nos toma e agarra de vez. A força que dirige as minhas mãos é tua, bebo-te com uma sede insaciável, faço-te a cama no meu pensamento, sou tua e não de mim mesma. E acho que sou boa o suficiente. Deixo-me levar pelo entusiasmo e mexo-me a uma velocidade alucinante que me tira a vontade de comer, de fazer compras e de dormir. Quando o corpo cede ao esquecimento, só rezo para conseguir ver-te nos meus sonhos. Os estores estão meio abertos, há escadas à porta da minha varanda à espera que me venhas buscar. Tenho toda a eternidade. Não preciso mais de me esconder, o impulso para que me vejam, ouçam e sintam é maior do que tudo o resto. Tocar-te é o complemento de tudo, a energia que está lá apenas flui, é incontrolável. Por isso agora fecho a luz do candeeiro, fico a olhar os prédios à minha volta, aconchego-me nos cobertores e expiro várias vezes para sossegar o meu pobre coração num suspiro quase inaudível, de índole lânguida e bem feminina. Posso até ser uma donzela aprisionada por enquanto mas acredito que a espera vai valer a pena, meu lindo, vais aparecer sem avisar, derrubar as grades da minha prisão para me libertares para sempre, perdida nos teus braços.

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quarta-feira, junho 3, 2009 - 22:12

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Paulagouveia

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