Namoro a cavalo

Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.

Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado...
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a comédia — em casamento...

Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando... uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...

Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode...
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...

Submited by

Martes, Abril 14, 2009 - 01:34

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

AlvaresdeAzevedo

Imagen de AlvaresdeAzevedo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 37 semanas
Integró: 04/14/2009
Posts:
Points: 303

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AlvaresdeAzevedo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil Alvares de Azevedo 0 2.091 11/24/2010 - 00:37 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo IV — Gennaro) 0 2.253 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo V — Claudius Hermann) 0 2.695 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo VI — Johann) 0 2.007 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo VII — Último Beijo de Amor) 0 1.654 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Macário - Introdução 0 1.559 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Macário - Primeiro episódio 0 1.290 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Macário - Segundo episódio 0 1.363 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sombra de D. Juan 0 1.450 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Na várzea 0 1.319 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General O editor 0 1.580 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Oh! Não maldigam! 0 1.801 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Dinheiro 0 1.496 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Adeus, meus sonhos! 0 1.555 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Minha desgraça 0 1.655 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Página rota 0 1.345 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo I — Uma noite do século) 0 1.628 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo II — Solfieri) 0 2.176 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Noite na Taverna (Capítulo III — Bertram) 0 3.225 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Panteísmo 0 1.256 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Desânimo 0 1.290 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General O lenço dela 0 1.395 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Relógios e beijos 0 1.657 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Namoro a cavalo 0 1.786 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Pálida imagem 0 1.396 11/19/2010 - 16:52 Portuguese