CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

A harmonia

Meu Deus! se às vezes, na passada vida,
Eu tive sensações que emudeciam
Essa descrença que me dói na vida
E, como orvalho que a manhã vapora,
Em seus raios de luz a Deus me erguiam
Foi quando às vezes a modinha doce
Ao sol de minha terra me embalava
E quando as árias de Bellini pálido
Em lábios de Italiana estremeciam!

Ó santa Malibran! fora tão doce
Pelas noites suaves do silêncio
Nas lágrimas de amor, nos teus suspiros,
Na agonia de um beijo, ouvir gemendo
Entre meus sonhos tua voz divina!

Ó Paganini! quando moribundo
Inda a rabeca ao peito comprimias,
Se o hálito de Deus, essa alma d'anjo
Que das fibras do peito cavernoso
Arquejava nas cordas entornando
Murmúrios d'esperança e de ventura,
Se a alma de teu viver roçou passando
Nalgum lábio sedento de poesia,
Numa alma de mulher adormecida,
Se algum seio tremeu ao concebê-lo...
Esse alento de vida e de futuro
— Foi o teu seio, Malibran divina!

Ah! se nunca te ouvi, se teus suspiros,
Desdêmona sentida e moribunda,
Nunca pude beber no teu exílio...
Nos sonhos virginais senti ao menos
Tua pálida sombra vaporosa
Nesta fronte que a febre encandecera
Depor um beijo, suspirar passando!

Meu Deus! e, outrora, se um momento a vida
De poesia orvalhou meus pobres sonhos,
Foi nuns suspiros de mulher saudosa,
Foi abatida, a forma desmaiada,
Uma pobre infeliz que descorando
Fazia os prantos meus correr-me aos olhos!

Pobre! pobre mulher! esses mancebos
Que choravam por ti... quando gemias,
Quando sentias a tua alma ardente
No canto esvaecer, pálida e bela,
E teu lábio afogar entre harmonias
— Almas que de tua alma se nutriam!
Que davam-te seus sonhos, e amorosas
Desfolhavam-te aos pés a flor da vida...
Ai quantas não sentiste palpitantes,
Nem ousando beijar teu véu d'esposa,
Nas longas noites nem sonhar contigo!

E hoje riem de ti! da criatura
Que insana profanou as asas brancas!...
Que num riso sem dó, uma por uma,
Na torrente fatal soltava rindo,
E as sentia boiando solitárias...
As flores da coroa, como Ofélia!...
Que iludida do amor vendeu a glória
E deu seu colo nu a beijo impuro...
Eles riem de ti!... mas eu, coitada,
Pranteio teu viver e te perdôo.

Fada branca de amor, que sina escura
Manchou no teu regaço as roupas santas?
Por que deixavas encostada ao seio
A cabeça febril do libertino?
Por que descias das regiões doiradas
E lançavas ao mar a rota lira
Para vibrar tua alma em lábios dele?
Por que foste gemer na orgia ardente
A santa inspiração de teus poetas...
Perder teu coração em vis amores?
Anjo branco de Deus, que sina escura
Manchou no teu regaço as roupas santas?

Pálida Italiana! hoje esquecida.
O escárnio do plebeu murchou teus louros!
Tua voz se cansou nos ditirambos...
E tu não voltas com as mãos na lira
Vibrar nos corações as cordas virgens
E ao gênio adormecido em nossas almas
Na fronte desfolhar tuas coroas!...

Submited by

terça-feira, abril 14, 2009 - 00:40

Poesia Consagrada :

No votes yet

AlvaresdeAzevedo

imagem de AlvaresdeAzevedo
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 29 semanas
Membro desde: 04/14/2009
Conteúdos:
Pontos: 303

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AlvaresdeAzevedo

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Alvares de Azevedo 0 1.479 11/24/2010 - 00:37 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo IV — Gennaro) 0 1.643 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo V — Claudius Hermann) 0 2.063 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo VI — Johann) 0 1.599 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo VII — Último Beijo de Amor) 0 1.290 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Introdução 0 1.115 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Primeiro episódio 0 869 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Macário - Segundo episódio 0 988 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Sombra de D. Juan 0 1.058 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Na várzea 0 1.031 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral O editor 0 876 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Oh! Não maldigam! 0 1.306 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Dinheiro 0 1.170 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Adeus, meus sonhos! 0 1.188 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Minha desgraça 0 1.029 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Página rota 0 943 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo I — Uma noite do século) 0 1.230 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo II — Solfieri) 0 1.563 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Conto Noite na Taverna (Capítulo III — Bertram) 0 2.324 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Panteísmo 0 884 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Desânimo 0 1.032 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral O lenço dela 0 994 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Relógios e beijos 0 1.052 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Namoro a cavalo 0 1.293 11/19/2010 - 16:52 Português
Poesia Consagrada/Geral Pálida imagem 0 1.054 11/19/2010 - 16:52 Português