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Franz Kafka - O Processo


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Através da janela aberta, ainda se avistava a velha senhora que, com uma curiosidade deveras senil, se havia aproximado da janela, agora mesmo em frente, para continuar a observar tudo.

O que interessa não é a maior oferta mas a maquia com que untam as mãos de quem vende.

A segurança com que falam de coisas de que não percebem absolutamente nada é apenas possível devido à sua estupidez.

(…) beijando-a na boca e depois no rosto todo, como um animal sedento que desordenadamente lambe a água da fonte finalmente encontrada.

A justiça é atraída pela culpa.

(…)seguiu-se uma salva de palmas… “Gente que se deixa conquistar com facilidade” -pensou.

O seu comportamento tranquilo conferia-lhes uma importância maior.

Como é que numa conjuntura tão absurda se pode evitar que os funcionários fiquem corruptos? É impossível; nem sequer o mais eminente juiz conseguiria escapar à acção dissolvente do meio.

Não me torne a falar de perigos, pois só os temo quando quero.

Estou convencido que o processo, devido à preguiça, esquecimento ou talvez mesmo ao medo dos funcionários, já está interrompido ou sê-lo-á em breve. No entanto, também é possível que na esperança de me apanharem dinheiro finjam continuar o processo; mas isso será absolutamente inútil, posso afirmá-lo agora, pois eu não unto as mãos seja a quem for. Sempre poderia prestar-me um favor se dissesse ao juiz de instrução, ou a qualquer outra pessoa que goste de espalhar notícias importantes, que eu nunca recorrerei ao suborno, embora esses cavalheiros usem todas as habilidades do seu vasto repertório. Isso seria completamente inútil, pode dizer-lhes sem rodeios.

(…) classes mais elevadas levantaram-se para o cumprimentar; No entanto, ninguém se levantou completamente; ficaram curvados, os joelhos flectidos, como mendigos.

Talvez nenhum de nós seja desapiedado; queríamos talvez ajudar de boa vontade toda a gente, mas, como somos funcionários da justiça, ganhamos facilmente uma aparência de pessoas duras de coração, que se recusam a auxiliar seja quem for.

Até a mínima incerteza na mais insignificante das coisas é sempre motivo de preocupação.

A infra-estrutura da justiça não era muito perfeita e que nela existiam empregados corruptos e descuidados dos seus deveres que constituíam outras tantas brechas no rigoroso círculo fechado da justiça. Por elas é que os advogados se intrometiam, pois ali faziam-se os subornos e as sondagens e até se haviam dado, pelo menos antigamente, casos de furtos de autos. Não se podia negar que dessa maneira se obtinham momentaneamente para o acusado alguns resultados surpreendentemente vantajosos, dos quais os advogados sem categoria se serviam para se pavonear e atrair novos clientes.

O que não devia era ficar no meio do caminho; esse era o procedimento mais disparatado não só nos negócios mas em tudo e em toda a parte.

A minha inocência não torna a coisa mais simples. (…)  Depende das inúmeras subtilezas em que a justiça se perde. No fim extrai uma grande culpa dum sítio onde nunca houve nada.

Trata-se de duas coisas diferentes: uma o que a Lei diz, a outra o que eu aprendi por experiência própria. É preciso que não as confunda. Na Lei, embora eu nunca a tenha lido, diz-se, por um lado, que o inocente é absolvido, mas, por outro, não se diz que os juízes podem ser influenciados. Mas o que eu aprendi foi precisamente o contrário.

O processo não pode permanecer parado sem que para tal existam pelo menos razões aparentes. Por conseguinte, é necessário criá-las. Assim, de vez em quando, tem de se tomar diversas disposições, interrogar o acusado, realizar investigações, etc. O processo é pois obrigado a girar no mesmo pequeno círculo a que artificialmente o limitaram. Isso, naturalmente, acarreta certos inconvenientes para o acusado; não obstante, o senhor não os deve ter na conta de demasiado graves. De facto, é tudo apenas aparência, os interrogatórios, por exemplo, são muito breves; além disso, se uma pessoa não tem tempo ou vontade de lá ir, pode dar qualquer desculpa; com certos juízes, podem-se mesmo estabelecer de antemão as disposições a tomar durante um longo espaço de tempo.

A regra fundamental em que devia assentar o comportamento de um acusado era estar sempre preparado, nunca se deixar surpreender, não olhar nesciamente para a direita quando o juiz se encontrava à esquerda.

Experimentava aquela sensação de à-vontade que só a conversa no estrangeiro com pessoas sem importância proporciona, pois, nessa altura, nada se diz de pessoal e apenas se fala serenamente daquilo que interessa ao interlocutor, o que permite não só elevar este mas também deixá-lo quando se quer.

Tenho de lançar mão de tudo quanto me possa ser útil; mesmo quando a esperança que deposito na utilidade de qualquer iniciativa é extremamente reduzida, não me posso permitir não a tomar.

- Os grandes advogados? Quem são? Como se chega até eles? 
-  Então o senhor nunca ouviu falar neles? Talvez não haja um só acusado que, depois de ter ouvido coisas a seu respeito, não tenha sonhado com eles durante uns tempos. Mas o melhor é o senhor não ceder à tentação. Não sei quem são os grandes advogados, mas sei que até eles ninguém chega. Não conheço nenhum caso em que se possa afirmar com segurança que eles intervieram. (…)Aliás, é melhor não pensar neles, pois de contrário começa-se a achar as conversas com os outros advogados, os seus conselhos e as suas ajudas tão desprezíveis e inúteis, falo por experiência própria, que só o que apetece é uma pessoa mandar tudo para o diabo, deitar-se na cama e não querer ouvir falar de mais coisa nenhuma. Mas isso seria, naturalmente, a atitude mais estúpida, pois até mesmo na cama o sossego seria de pouca dura. (…) mas infelizmente é impossível esquecê-los por completo; especialmente as noites são propícias a tais pensamentos. Mas naquele tempo o que queria era resultados rápidos, e por isso fui ter com os zângãos.

Devia então esperar-se que, para mim, o problema ficaria menos complicado do que anteriormente, pois quando uma pessoa contrata um advogado é para se aliviar um pouco do peso do seu processo. Porém, foi precisamente o contrário o que aconteceu. Nunca o processo me inspirou tantos cuidados como desde que o senhor doutor passou a ser o meu patrono. Quando estava sozinho não fazia nada no meu caso, mas também mal me apercebia da sua existência; pelo contrário, agora que tinha um defensor, tudo estava preparado para que acontecesse qualquer coisa; assim, sem cessar e cada vez mais ansioso, aguardei uma intervenção qualquer da parte do senhor doutor, mas em vão.

Nos escritos que servem de introdução à Lei fala-se desta ilusão: “Em frente da Lei está um porteiro; um homem que vem do campo acerca-se dele e pede-lhe que o deixe entrar na Lei. O porteiro, porém, responde que nesse momento não pode deixá-lo entrar. O homem medita e pergunta então se mais tarde terá autorização para entrar. “É possível”, responde o porteiro, “mas agora não pode ser”. Como o portão que dá acesso à Lei se encontra, como sempre, aberto, e o porteiro se afasta um pouco para o lado, o homem inclina-se a fim de olhar para o interior. Assim que o porteiro repara nisso diz-lhe, rindo-se: “se te sentes tão atraído, procura entrar a despeito da minha proibição. Todavia, repara: sou forte e não passo do mais ínfimo dos porteiros. De sala para sala, porém., há outros porteiros, cada um deles mais forte do que o anterior. Até o aspecto do terceiro guarda é para mim insuportável”. O homem do campo não esperara encontrar tais dificuldades, “a Lei devia ser sempre acessível a toda a gente”, pensa ele; porém, ao observar melhor o porteiro envolto no seu capote de peles, o seu grande nariz afilado, a longa barba rala e negra a moda tártara, acha que é melhor esperar até lhe darem autorização para entrar. O porteiro dá-lhe um escabelo e diz-lhe que se sente ao lado da porta. Durante anos ele permanece sentado. Faz numerosas tentativas para ser admitido e fatiga o porteiro com os seus pedidos. Aquele, de vez em quando, faz-lhe perguntas sobre a sua terra e sobre muitas outras coisas, mas duma maneira indiferente, como fazem os grandes senhores, e no fim diz-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que se proveu de amplos meios para a sua viagem, emprega tudo, por mais valioso, para subornar o porteiro. Este, com efeito, aceita tudo, mas diz: “só aceito o que me dás para que não julgues que descuraste alguma coisa”. Durante todos aqueles longos anos o homem olha quase ininterruptamente para o porteiro. Esquece-se dos outros porteiros; parece-lhe que o porteiro é o único obstáculo que se opõe à sua entrada na Lei. Amaldiçoa em voz alta o infeliz acaso dos primeiros anos; mais tarde, à medida que envelhece, já não faz outra coisa senão resmungar. Torna-se acriançado e, como durante anos a fio estudou o porteiro, acaba também por conhecer as pulgas da gola do seu capote; assim, pede-lhes que o ajudem a modificar a atitude do porteiro. Por fim, a sua vista torna-se tão fraca que já nem sabe se escurece realmente à sua volta ou se é apenas ilusão dos seus olhos. Agora, porém, lobriga, no escuro, um fulgor que, inextinguível, brilha através da porta da Lei. Mas ele já não tem muito tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências por que passara durante esse tempo convergem para uma pergunta que, até essa altura, ainda não formulara. Faz um sinal ao porteiro para que se aproxime, pois o entorpecimento que o domina já não o deixa levantar-se. O porteiro tem de curvar-se profundamente, visto que a diferença das estaturas se modificara bastante. “Que queres tu ainda saber?”, pergunta o porteiro. “És insaciável.” “Se todos aspiram a conhecer a Lei”, diz o homem, “como se explica que durante estes anos todos ninguém, a não ser eu, pedisse para entrar?” O porteiro reconhece que o homem já está perto do fim e, para alcançar o seu ouvido moribundo, berra: “Aqui, ninguém, a não ser tu, podia entrar, pois esta entrada era apenas destinada a ti. Agora vou-me embora e fecho-a.”

Não aceites a opinião alheia sem reflectires

A compreensão duma coisa e a má interpretação da mesma coisa não se excluem completamente.

As interpretações são muitas vezes apenas a expressão do desespero que os comentadores sentem perante os escritos.

A lógica é na verdade inabalável, mas não resiste a um homem que quer viver.

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sábado, dezembro 22, 2012 - 11:58

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