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TENHO VONTADE DE VIVER
Atropelado,
Com as tripas de fora, com a alma à mostra, nua,
Feito um gato, por um carro, esborrachado...
Passaram vezes sem conta, por cima de mim,
Sem sequer olharem que ali estava alguém,
Pisada, espezinhada, mais parecia não ter fim,
Até me atordoarem, e de vida ficar sem...
Sensação estranha,
Quase que posso criar nela,
Um hábito, que se me entranha...
Quase que me podia habituar, a esta calcadela.
Choro,
Lágrimas sem dor,
Como num miado, suave, ténue, nada sonoro,
Á espera de alguém, que me levante, daquele chão encardido, sem cor...
Estremeço,
De frio, gelado,
Procuro abrigo, em algo, nem que seja um jornaleco,
Onde possa resgardar, este meu corpo morto retalhado.
Sozinha, recordo o dia, em que estava inteira,
Apoiada, pelo cínico mundo que girava á minha volta,
Rodeada por parasitas, sempre à minha beira...
E agora, aqui estou...sem nada...que revolta...
Quero falar, gritar, pedir ajuda,
Mas algo, por cima da minha garganta, passou,
Deixou-me sem fala, inanimada, muda...
Só os miolos tenho no lugar,
Quem me atropelou, não me incapacitou, totalmente,
Posso estar magoada fisicamente, mas nada me impede de pensar...
Pensar, em me mudar,
Do chão me erguer,
Minhas peças, colar, unir, juntar,
E ter novamente, força e vontade de viver.
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Poesia :
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Comentários
insensibilidade
tanto mais dura é a morte
quanto cruelmente morde a indiferença
- e o ser humano cria universos
de insensibilidade.
Saudações
Abilio.
TENHO VONTADE DE VIVER
Excelente, novamente.
"Sozinha, recordo o dia, em
"Sozinha, recordo o dia, em que estava inteira,"
Aqui sente-se uma lâmina fria a roçar a carne da leitura!
Fisicamente, todo o poema se despedaça em beleza.
Palavras como que peças à volta de encontrar o encaixe perfeito...
Grande poema, doi, mas é belo.
Parabéns Joana!!!
Beijo
:-)