CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
A AMBIÇÃO DE MARIANA
Naquela tarde, Mariana não estava disposta a fazer os trabalhos de casa. Embora sabendo bem o quão exigente era a sua professora, decidiu ir ter com as suas amigas ao adro da igreja daquela pequena aldeia sem luz, nem água canalizada, onde o ar que se respirava era puro, mas a miséria uma realidade tão grande quanto retrógrada e primitiva era a mentalidade de alguns dos seus 800 habitantes.
Deixou os livros em cima da mesa da cozinha e saiu. Ela não estava a suportar mais aquele espaço onde o cheiro a lenha queimada e a miséria tanto a incomodavam. Estes dois elementos, de permanência diária, incomodam mais ainda quando a saturação de quem os vive impede-os de raciocinar direito e de manter a perseverança necessária a um mudar de rumo, num futuro relativamente próximo, sobretudo quando há já algo que está a exercer-lhes pressão para uma decisão que pode vir a ser lamentável.
Mariana tinha 15 anos. Ela estava cansada de viajar todos os dias para a escola da localidade mais próxima, quantas vezes depois duma noite passada num leito onde o conforto era uma lacuna tão grande quanto toda a atmosfera pesada que se vivia naquela casa. A mãe, pessoa de extrema bondade, cujo rosto revelava já marcas profundas dum enorme sofrimento, não podia dar aos seus 5 filhos mais do que muito amor. Vivia atormentada pelo progressivo apego do marido ao álcool, apego esse que ele vinha manifestando há alguns anos. Tinha virado tormento vê-lo sair de casa todas as noites, de lanterna na mão, em direcção à adega onde iria “confraternizar” com os amigos para esquecer o suor que lhe caía do rosto, todos os santos dias, sem que o resultado do seu esforço compensasse a sua família. Ele não era mau, mas este vício estava a torná-lo demasiadamente melancólico, demasiadamente desinteressado e, muito possivelmente, sentindo-se eternamente escravo duma vida de sacrifícios que não conseguia evitar.
Mariana era a mais velha das 5 crianças e a que mais ‘tarefas’ tinha naquele lar, espelho de vidas sem esperança. Ir para o quarto que partilhava com os seus irmãos não seria uma alternativa possível, porque estaria sendo incomodada, constantemente, pelos mais pequenitos. Determinada, enfiou um casaquito de carapuço e saiu. Era sua intenção, ao sair de casa, estar com as amiguinhas de todos os dias, algumas das quais não partilhariam o ácido sabor da vida que se vivia em sua casa e, portanto, nunca poderiam compreender o quanto sofria. Talvez consciente disso, decidiu mudar de direcção.
Mariana tinha um amigo, filho de agricultores abastados, com quem viajava todos os dias para a escola. O clima que se vivia em casa dele era bem diferente, mas tinha um factor comum: um malfadado vício. Neste caso, o pai desse seu amigo era conhecido pela sua infidelidade à mulher. Constava-se mesmo, naquela pequena localidade, que tinha filhos de menores de quem abusava regularmente. A mulher dele, como dinheiro não faltava naquela casa, não trabalhava, passando os seus dias a ajudar o padre da aldeia. Todos os santos dias aquela senhora "queimava" ali o seu tempo, preparando os arranjos de flores, deitando fora as que já estavam murchas ou arranjando o altar onde a imagem dum Cristo, a quem tantas almas pediam o que Ele não podia dar, inspirava oração. Resumindo: esta senhora preenchia os seus dias a seu bel-prazer.
Naquela tarde Mariana sentiu que os seus passos não deveriam conduzi-la ao adro da igreja. Ela sabia que a mãe do seu amigo estava na igreja, porque a tinha visto passar em frente da sua casa, quando estava na cozinha. Decidida, rumou em direcção à casa do amigo, mas ele não estava. Tinha ido jogar futebol. O pai dele, muito solícito, convidou-a a esperar por ele lá em casa. Aceitou. Talvez o convite fosse sincero. Porque não aceitar? Afinal, não havia mal nenhum nisso… Mas seria, realmente, o que Mariana estaria a sentir, ou essa sua reflexão obedecia a um instinto que ela não estava a dominar?
…………
A atitude da Mariana tornou célebre aquela aldeia de 800 habitantes.
Na cela dum qualquer estabelecimento prisional, um homem, não arrependido, esperava o dia da sua libertação, enquanto no espaço duma qualquer instituição de menores, uma jovem, envergonhada e arrependida, mudava o quadro das suas ambições, esperando o dia em que pudesse regressar a casa para ajudar a sua família, que sempre a amou, malgrado o pouco que podia dar-lhe, para além desse Amor tão puro quanto verdadeiro…
Maria Letra
Submited by
Prosas :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1030 leituras
other contents of Maria Letra
Tópico | Título | Respostas | Views |
Last Post![]() |
Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Tristeza | O FLAGELO DA PERDA | 1 | 448 | 06/17/2021 - 16:23 | Português | |
Poesia/Geral | NA MIRA DE GENTE FALSA | 0 | 384 | 06/13/2021 - 21:41 | Português | |
Poesia/Intervenção | SOCIALIZAR_OU NÃO? | 0 | 282 | 06/13/2021 - 21:36 | Português | |
Poesia/Geral | RENOVAÇÃO | 0 | 506 | 05/27/2021 - 17:34 | Português | |
Poesia/Intervenção | AUTO DA SUBSERVIÊNCIA | 0 | 399 | 05/25/2021 - 01:03 | Português | |
Poesia/Soneto | LUZ E DESAIRE | 0 | 473 | 05/21/2021 - 18:32 | Português | |
Poesia/Desilusão | ESPECTRO DO QUE ME RESTA | 0 | 471 | 05/07/2021 - 00:10 | Português | |
Poesia/Soneto | QUERIA SER POMBA COM ASAS DE ESTANHO | 0 | 444 | 05/06/2021 - 22:29 | Português | |
Poesia/Soneto | DEIXA-ME VIVER! | 2 | 635 | 04/27/2021 - 21:40 | Português | |
Poesia/Tristeza | MUITOS FORAM OS QUE PARTIRAM | 0 | 551 | 04/25/2021 - 11:42 | Português | |
Poesia/Intervenção | REVOLUÇÃO | 0 | 527 | 04/25/2021 - 09:39 | Português | |
Poesia/Dedicado | UM HINO À NOITE | 0 | 544 | 04/23/2021 - 00:15 | Português | |
Prosas/Outros | A MINHA PERPECTIVA SOBRE ALGUMAS DAS DIFERENTES CLASSES SOCIAIS-COM A COLABORAÇÃO DE MIGUEL LETRA | 0 | 653 | 04/13/2021 - 13:14 | Português | |
Poesia/Meditação | ESPERO_POR_TI_MADRUGADA | 2 | 393 | 04/07/2021 - 21:34 | Português | |
Poesia/Desilusão | A NOVA PÁSCOA | 0 | 406 | 04/04/2021 - 08:09 | Português | |
Poesia/Geral | O QUE SERIA DE MIM | 0 | 439 | 03/28/2021 - 03:54 | Português | |
Poesia/Soneto | TEMPOS DE AFLIÇÃO | 2 | 520 | 03/27/2021 - 00:34 | Português | |
Poesia/Geral | ESPERANDO PELA MARÉ ALTA | 0 | 555 | 03/26/2021 - 00:45 | Português | |
Poesia/Geral | MULHER-ESCRITORA | 0 | 396 | 03/25/2021 - 17:28 | Português | |
Poesia/Tristeza | RECOMEÇAR | 0 | 422 | 03/25/2021 - 02:32 | Português | |
Poesia/Desilusão | O VAZIO DA MINHA ALMA | 0 | 1.584 | 03/11/2021 - 13:51 | inglês | |
Poesia/Geral | O GRITO DO INDÍGENA | 2 | 607 | 03/10/2021 - 22:31 | Português | |
Poesia/Tristeza | TERRAS DE DESAMOR | 0 | 634 | 03/09/2021 - 22:04 | Português | |
Poesia/Intervenção | VIOLÊNCIA | 0 | 439 | 03/09/2021 - 21:46 | Português | |
Poesia/Geral | A MULHER E O OBVERSO DO IRREVERSÍVEL | 0 | 402 | 03/08/2021 - 22:30 | Português |
Add comment