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A procura

Finalmente fomos apenas tu, eu e o eco do silêncio, dentro de uma caixa de fósforos.

Não te via, mas soube que tinhas os olhos abertos, mergulhados nas trevas, na esperança de veres o meu rosto iluminar-se com o sorriso meigo que sempre te ofereci sem cobranças… Mas passado tanto tempo, já não te sorrio no escuro. Não te passo a mão pelo rosto nem te aconchego, nos meus sonhos, com os lábios.

Não te via, mas soube que as tuas mãos procuravam as minhas no vazio, devagar, mas sem cansaços. Perdoa-me, se puderes, por já não ter ternuras para te dar… Os meus abraços estão gastos e os meus olhos fechados; já não te procuro. Agora que sei onde estás, já não te procuro.

Quando, uma vez, acordei cansada de existires, perguntei-me o que faria se o dia chegasse. Se um dia decidisses que era tempo de retribuir a minha vida com um toque, perguntei-me o que faria… e soube que não o faria. Não tenho mais vida para te dar e a paz na minha morte é minha e não ta dou. E se me deixo cair no escuro, de olhos fechados e com um sorriso voltado do avesso, é porque agora sei ser feliz sem que olhes para mim ou me toques com esses dedos que senti apenas algumas vezes, de passagem, por tentarmos existir ao mesmo tempo, no mesmo espaço, chocando desejos.

Não te via, mas senti-te avançar para mim, puxar o meu corpo do chão e implorar-me por alguma alegria. Não te via, mas senti os teus dedos entrelaçarem-se nos meus, suplicando apertos, beliscando cuidados. Não te via, mas no meio da tua tristeza calada, senti-te chorar um beijo. Um beijo morno e demorado, dado com lágrimas e soluços culpados, por nunca me teres visto quando éramos tu e eu à luz do dia.
Ouvi música, vi o mar, corri num campo aberto. E no centro do meu mundo, a vibração do pulsar de uma réstia de vida.

E então, procurei-te.

As minhas mãos encheram-se de ternuras envoltas em laços e papel de embrulho; e os meus braços apertaram o ar, na ânsia de te acomodar junto ao meu peito. Mas os meus olhos permaneceram fechados, porque te vi. Quando não te olhava, finalmente vi-te. Quando não me tocavas, enfim fomos um.
E é agora, ainda no escuro, baixinho, que te peço:

“Beija-me outra vez daí de onde estás. Beija-me sem lábios, sem palavras. Mas beija-me com força. Beija-me com certeza.”

E tu permaneceste imóvel.
E limpaste as lágrimas.
E beijaste-me com força, com certeza, até a minha alma se sentir beijada.

* * *

Yours sincerely,
Supertramp.

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quarta-feira, novembro 12, 2008 - 14:47

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