Os Tontos

Caminho pelo deserto,
Com a sensação que nunca irei, ao meu destino chegar…

Por vezes, fico lá perto,
Mas depois, as tempestades de areia, fazem-me ao ponto de partida voltar…

Levo além do meu esqueleto, a pesada lembrança,
De que nunca me devo esquecer, de onde vim.

Carrego assim a esperança,
De voltar, regressar às origens, a mim...

A meio do caminho, revejo-me nos cactos espinhosos,
Como se eu, como eles, tivesse ganho aquelas defesas naturais.

Eu, com distância e prepotência, eles com os seus picos frondosos,
No entanto, ambos directos, agressivos, frontais.

Vejo ao longe uma embaçada miragem,
De um oásis sentimental, ao gosto do meu dedo,
Que me faz fazer uma breve viagem,
A um recanto, por mim escondido, de medo.

Medo, de voltar a ficar apaixonada,
De sentir-me outra vez indefesa e incapaz de reagir,
De me deixar levar, como a uma pena, pelos ventos quentes, da brisa perfumada,
Ou de me simplesmente, deixar ir…
Medo de ser enganada,
Pois de ingénua, tenho muito, para dar e vender,
Até mesmo de ser usada,
Em prol de vaidades, ou simplesmente devaneio e prazer.
 

E por isso, continuo pelo deserto, numa solitária caminhada,
Ignorando tudo o que por mim passa e a mim se dirige,
Antes, sozinha do que, mal acompanhada,
Minha mente poupo e assim meu coração não se aflige.