Infância perdida

Tudo o que acontece é por minha culpa.
Portas cerradas e sorrisos fechados me cercam.
Se estou triste, querem-me alegre,
E enterram as razões ocultas da minha dor;
Se estou alegre, querem-me serena,
Qual marioneta faz o que os dedos lhe impõem.

Uma máquina não seria mais maquinal.
Talvez uma máquina viva em maior liberdade.
Quando parece que enervo tudo o que me rodeia,
Ignoram os nervos que me percorrem o corpo;
Quando parece que entristeço todos quantos merecem ventura,
Não compreendem a angústia do meu ser.

Exigem-me que lhes traga a Lua,
Mas a Lua seria pouco para o comum dos mortais…
Melhor seria o universo inteiro, e que desprezível sou eu
Que não sou capaz de conceder o impossível.

Minha Mãe, não me culpes por fazer tudo o que posso,
Não me peças para ser mais pequenina do que sou
E tornar todas as horas em que me entrego
Ainda mais invisíveis a quem as merece.

Meu Pai, entende que sou pequena,
Que não cresci o suficiente para chegar ao Céu
E pedir-Lhe que, no céu negro desta noite sem fim,
Coloque uma só estrela ardente
Que na cruel adversidade do mundo
Ilumine a Tua sofrida Humanidade.