Diz-me que me amas, meu amor

Dispo todos os sofrimentos,
E é nu de sentimentos
Que te caço.
Se te penso, sou devasso,
Se te abraço, mais não faço que ser teu
E entro em ti como quem nunca esqueceu
Tudo o que sou contigo…
Brincas com a minha nudez em perigo
Que se exalta e te toma.
O teu corpo, a tua forma,
O teu olhar de presa falsa…
Tudo em ti realça o teu mover de fera.
Dás-me o que tenho estado à espera
Num gemer insano e cheio
E então entro por ti dentro:
És molde, és enleio,
És aquela que eu premeio
Quando em gozo eu rebento.
Ao que queres me obrigas:
Tuas mãos, como duas cantigas,
São vozes finas em sons de excessos...
Teus seios de mamilos duros e erectos,
São melodias de sereia.
E qual viuva negra em sua teia
O teu ventre é para mim, fatal.

Morro numa estocada final,
que é tudo menos dor...

Amanhã irei vestir de novo o sofrimento,
mas enquanto ainda dura este momento,
diz-me que me amas, meu amor.