Pudesse estar eu no caixão comigo ao lado.

Puder estar eu no caixão comigo ao lado,
Puder eu aceitar-me acompanhado,
Na clausura de uma caixa preta por uma mortalha
Branca e outras coisas de pouca monta e ruim escolha,

Minha alma vive exilada do meu ouvido,
Tantas noites quanto perguntas, lhe faço dormindo,
Consciente de não ter vida na alma ou fala
Que possa sentir como d’ irmão ou fada irmã na cela,

Pudesse eu olhar desta prisão de ar e hipocrisia, a essência
De mim próprio e alguém que diz ter toda a fantasia
Presa, da alma a outra ponta – Chamo-a e não responde
De volta e nem a linha, ao outro do lado nos prende,

Pudesse eu no caixão falar comigo como a um bom filho,
E o que falássemos servir pra mudar d’atavio e o feitio d’atilho,
Com que se prendem as almas imortais outras a outros
Tantos humanos, presos eles todos, por fios infindos e nós duplos,

De diferentes tons e nós cegos, quantos sem nós, quantos
Sem paz mas apegos, como uma mariposa, na ilusão da chama
A que se sentem ligados e mais se avizinham.
(Os sítios que assustam, têm lados outros que fascinam)

Pudesse eu no caixão, recluso morar, comigo ao lado.

Joel Matos (10/2014)

http://namastibetpoems.blogspot.com

Submited by

Friday, February 23, 2018 - 18:53

Ministério da Poesia :

Your rating: None Average: 5 (1 vote)

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 18 weeks 6 days ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 42284

Comments

Joel's picture

Pudesse eu no caixão falar comigo como a um bom filho,

Pudesse eu no caixão falar comigo como a um bom filho,

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Sombras no nevoeiro 0 3.865 02/16/2013 - 22:59 Portuguese
Poesia/General o dia em que o eu me largou 2 2.401 12/30/2011 - 13:24 Portuguese
Poesia/General ciclo encerrado 0 3.508 03/11/2011 - 23:29 Portuguese
Ministério da Poesia/General gosto 0 5.073 03/02/2011 - 16:29 Portuguese
Poesia/General A raiz do nada 0 2.798 02/03/2011 - 21:23 Portuguese
Poesia/General Tão íntimo como beber 1 2.007 02/01/2011 - 23:07 Portuguese
Poesia/General Gosto de coisas, poucas 0 4.212 01/28/2011 - 18:02 Portuguese
Poesia/General Luto 1 4.986 01/15/2011 - 21:33 Portuguese
Poesia/General Não mudo 0 3.481 01/13/2011 - 13:53 Portuguese
Prosas/Lembranças Cruz D'espinhos 0 10.462 01/13/2011 - 12:02 Portuguese
Prosas/Contos Núri'as Ring 0 5.691 01/13/2011 - 12:01 Portuguese
Poesia/Fantasy Roxxanne 0 4.868 01/13/2011 - 12:00 Portuguese
Poesia/General Oração a um Deus Anão 0 6.949 01/13/2011 - 11:58 Portuguese
Prosas/Saudade O-Homem-que-desenhava-sombrinhas-nas-estrelas 0 5.164 01/13/2011 - 11:57 Portuguese
Poesia/General O fim dos tempos 0 5.822 01/13/2011 - 11:52 Portuguese
Poesia/General Terra á vista 1 3.077 01/13/2011 - 02:13 Portuguese
Prosas/Lembranças sete dias de bicicleta pelo caminho de Santiago francês 0 10.726 01/13/2011 - 00:58 Portuguese
Poesia/General Não sei que vida a minha 1 2.113 01/12/2011 - 22:04 Portuguese
Poesia/General o céu da boca 0 5.552 01/12/2011 - 16:50 Portuguese
Poesia/General Dispenso-a 0 2.690 01/12/2011 - 16:38 Portuguese
Poesia/General estranho 0 5.565 01/12/2011 - 16:36 Portuguese
Poesia/General comun 0 6.217 01/12/2011 - 16:34 Portuguese
Poesia/General desencantos 0 2.731 01/12/2011 - 16:30 Portuguese
Poesia/General Solidão não se bebe 1 3.651 01/12/2011 - 03:11 Portuguese
Poesia/General Nem que 3 3.724 01/11/2011 - 11:39 Portuguese