Convenço, convencei, convençai…

Convenço, convencei, convençai…

A catarse da vida é tudo o que há de mais puro nas ilusões, a perca de ilusões é o cataclismo simbólico, a catástrofe, o fim de tudo que, inconscientemente nos anima, nos dá alma e brilho ao espírito, o cenário, o quarto da Alice brilhando no escuro, no breu.
“A ida”, na viagem, é uma desses enganos magníficos, maravilhosos, em que a nossa inteligência nos cede endomórficas estaminas, tal como numa aventura a dois, de recém- apaixonados ou casados, ainda com a tinta fresca e as latas a arrastar ruidosos, no asfalto, traços descontínuos a perder de vista, um “Buick” branco conversível, nas estradas do Arizona, regressado à estrada, como novo, depois do casal fazer 60 anos de casados, incutida a genial ideia de que isso era a felicidade conjugal suprema, há muito tempo perdida e a depois miraculosamente redescoberta; coisas da publicidade comercial de “Cable- TV” , que tanto pode vender cigarros para um infeliz cowboy, sentados na garupa de um cavalo malhado no meio do deserto de Sonora (apesar de ter morrido de câncer no pulmão, alguns anos depois) assim o medo por tubarão de filme, nas séries da Net-Flix, sem enredos, apenas medo e mais medo das águas cálidas, pacíficas do meio oceânico.
Vendem-nos Pepsodent-herbal, para a cárie nos dentes tal como a cabeleira de Donald-Trump despenteada, quão admirável presença na sala oval, não fosse gato-morto, fedorento ou escalpe/ troféu de cinturão de índio, no Far-West Americano ou ainda quando se vende como autêntica necessidade, uma chaleira de água quente com apito, a um beduíno no deserto, sem corrente eléctrica nem luz na tenda, música anti-stress, a um monge dos Himalaia, em recolhimento por 120 anos, numa gruta a mais de 5.150 metros de altura, apesar deste viver-nas-nuvens.
O fígado e os rins são excepções, não consigo e acho que ninguém consegue, fazê-los mudar de funções, mas penso que funciona no marketing e em quase todas as nossas acções.
As nossas escolhas não são monólitos negros, estruturas decanas, ancestrais, mas sim espuma, plasticina-plástica, matérias mutáveis, alteráveis, estranhas simbióticas e tacanhas as nossas mentes, pois acreditam em tudo quanto lhes impingimos, quer seja banha de cobra ou sabonete de ervas para a celulite e para a tinha-seborreica.
Usada benevolentemente, a nossa capacidade de convencer pode, pela persistência, dignificar a esterilidade ou dar importância a um individuo nulo, de olhar fixo e lentes graduadas, tornar pertinaz o filosofo e metafisico algo ou alguém cuja importância e existência, seja pouco mais que física e que se reconhece ele próprio como ser meramente decente e próprio para uma digestão monogástrica, mono-fágica. Uma tragedia, a decadência humana, se não ousarmos sonhar, sonhemos, acreditemos, convençamos alguém que a lua é feita de vidro verde e o homem objecto de porcelana da China, nada é o que parece mas tudo o que parece pode ser e é, cabe-nos acreditar.
O mecanismo da inteligência dá-nos clarividências que podem ser genéticas, apesar da nitidez maior ou menor com que as possamos usar ou usufruir, pode ser sublimada, alavancada por peças exteriores a ela e estas, se usadas da forma mais generosa, podem fazer conquistar muitos e nobres propósitos ao ser humano em geral e à humanidade, como se fossemos um cardume de anchovas livres e felizes, num mar sem redes ou tramas menores, convençai…conversai …

Joel matos 07/2018
http://joel-matos.blogspot.com

Submited by

Monday, August 6, 2018 - 16:01

Ministério da Poesia :

Your rating: None Average: 5 (1 vote)

Joel

Joel's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 1 day 14 hours ago
Joined: 12/20/2009
Posts:
Points: 43158

Comments

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Joel's picture

.

.

Add comment

Login to post comments

other contents of Joel

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/General Lost Priscilla 0 3.508 01/09/2011 - 19:53 Portuguese
Poesia/General Inspiração 0 4.210 01/07/2011 - 17:38 Portuguese
Poesia/General Maré Mingua 0 3.828 01/07/2011 - 17:36 Portuguese
Poesia/General O da Chave 0 4.643 01/07/2011 - 17:02 Portuguese
Poesia/General Teima...Teima 0 3.166 01/07/2011 - 17:00 Portuguese
Poesia/General Juntei sobras 0 4.869 01/07/2011 - 16:59 Portuguese
Prosas/Lembranças Feitiço da Terra 0 5.480 01/07/2011 - 16:56 Portuguese
Poesia/General Feitiço da Terra 0 4.989 01/07/2011 - 16:55 Portuguese
Poesia/General Nem Que 0 3.734 01/07/2011 - 16:53 Portuguese
Poesia/General Flor Bela 0 3.303 01/07/2011 - 16:52 Portuguese
Poesia/General Manhã Manhosa 0 3.777 01/07/2011 - 16:51 Portuguese
Poesia/General Panfleto 0 2.889 01/07/2011 - 16:49 Portuguese
Poesia/General Pátria minha 0 5.684 01/07/2011 - 16:48 Portuguese
Poesia/General Quero fazer contigo ainda muitas primaveras... 0 6.180 01/07/2011 - 16:47 Portuguese
Poesia/General O templo 0 3.600 01/07/2011 - 16:46 Portuguese
Poesia/General cacos de sonhos 0 4.082 01/07/2011 - 16:44 Portuguese
Poesia/General O Triunfo do Tempo 0 3.988 01/07/2011 - 16:36 Portuguese
Poesia/General Nau d'fogo 4 6.118 01/07/2011 - 09:06 Portuguese
Poesia/General Carta a uma poeta 4 2.999 01/06/2011 - 14:00 Portuguese
Poesia/Gothic Dò,Ré,Mi... 1 3.872 12/30/2010 - 13:16 Portuguese
Poesia/General Príncipe Plebeu 1 4.054 12/29/2010 - 21:29 Portuguese
Poesia/General Tenho saudades de quando ignorava que havia mundo… 1 4.993 12/29/2010 - 21:26 Portuguese
Poesia/General buracos de alfinetes 2 5.948 12/22/2010 - 21:53 Portuguese
Prosas/Others o transhumante 0 3.892 12/21/2010 - 22:11 Portuguese
Prosas/Others N2 0 8.242 12/21/2010 - 22:08 Portuguese