Onde tudo É
O sol enche-me os poros da pele ainda húmida, estendo os braços num abraço à praia em jeito de arrastar todos os grãos finos de areia, colocá-los sob o meu corpo ampliando-o num gesto pleno de comunhão. Se o mundo fosse uma praia deserta, eu deitava-me nele e povoava-me com os sonhos idílicos de verão. Um clima ameno, aconchegante, mãos suaves e delicadas a afagar-me o rosto, a sugar-me o gotejar tépido do meu corpo ainda com sabor a mar. A liberdade de movimentos espraiada neste contínuo areal abocanhada pelo sol quente que me inunda o corpo, está num momento de rendição que se veste da cor do desejo, e é colocada na minhas mãos.
Curvo-me perante ti, olhas-me como quem quer penetrar os sonhos do mundo sem saber como pegar-lhe, baixo-me e estendo-me na areia, corpo livre, peitos ao relento, parte do biquini já está estendido ao sol a secar dos múltiplos banhos do mar, que nos oferece agora uma sinfonia calma. A espuma que vem mergulhar na areia fina, toca-nos ao de leve as pontas dos dedos dos pés, desliza sobre as pernas, massajando-nos a pele num só gesto. O mar atraiçoa-se neste vai-e-vem constante que chora baixinho neste fim de tarde, as tuas mãos percorrem-me o corpo quente e o sol acena-nos ao longe, lembrando que está na hora de bater em retirada. Sinto na baixo ventre a humidade que se solta da profundidade da areia, volto-me de face para o sol para que se entranhe no meu corpo, até ao ponto onde tudo é, as tuas mãos avançam procurando a nudez plena, quente e inquietante, numa viagem onde tudo acontece.
O prazer de ter ali só para mim condensa-se num odor forte que desconheço, olho a ondulação forte para sentir através dela a sensação de um olhar penetrante que me incendeie os sentidos e me encha nos momentos abrasivos de uma humidade que me escorra pelo corpo, e me faça transbordar as margens secas, onde a corrente se abasteça e culmine num sopro quente do desejo. Os teus olhos viajam além de nós e fecham-se devagar, só o prazer dos corpos se identifica com o calor que nos afaga a alma, bailamos ao som da música que nos traz o vento e em comunhão com a crista da liberdade, somos as vozes criadas num momento de eternidade.
Ouço-te nos murmúrios do tempo, e as estrelas que se perdem num céu sem nuvens, caem na desgraça e adormecem nos jardins imaculados do templo.
Dolores Marques
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1796 reads
Add comment
other contents of ÔNIX
| Topic | Title | Replies | Views |
Last Post |
Language | |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Poesia/Love | Se Fossemos Um Só | 14 | 1.933 | 01/26/2010 - 22:16 | Portuguese | |
| Poesia/Dedicated | Perdi-me Algures (Para Lila Marques) | 22 | 1.720 | 01/26/2010 - 22:13 | Portuguese | |
| Prosas/Others | Rituais | 2 | 1.647 | 01/26/2010 - 12:50 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Quem Somos Nós? | 4 | 1.479 | 01/24/2010 - 11:48 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Reflexos Meus | 8 | 1.190 | 01/23/2010 - 12:03 | Portuguese | |
| Prosas/Tristeza | Abismos | 4 | 2.324 | 01/22/2010 - 09:20 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Reflexos Meus | 16 | 1.642 | 01/21/2010 - 23:28 | Portuguese | |
| Poesia/Love | Eu Soletro e Tu Escreves: | 16 | 1.616 | 01/21/2010 - 23:25 | Portuguese | |
|
|
Fotos/Others | Gatos | 2 | 2.373 | 01/17/2010 - 22:13 | Portuguese |
|
|
Fotos/Personal | A minha aldeia nas terras altas | 2 | 2.281 | 01/17/2010 - 21:57 | Portuguese |
| Poesia/Meditation | Círculos de Fogo | 12 | 1.466 | 01/16/2010 - 16:16 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Sem Palavras | 6 | 1.565 | 01/16/2010 - 16:05 | Portuguese | |
| Poesia/Love | Em Segredo (III) | 6 | 1.368 | 01/13/2010 - 16:03 | Portuguese | |
| Poesia/Love | Em Segredo (II) | 4 | 1.033 | 01/13/2010 - 15:38 | Portuguese | |
| Prosas/Romance | Personificação de Um Alter-Ego, Essa Entidade Viva | 4 | 2.401 | 01/13/2010 - 15:32 | Portuguese | |
| Poesia/Love | Em Segredo(I) | 12 | 2.222 | 01/12/2010 - 10:04 | Portuguese | |
| Poesia/Love | Por Ser Natal, Meu Amor | 21 | 1.782 | 01/09/2010 - 13:13 | Portuguese | |
| Poesia/Dedicated | Subtileza no Amor (P/Sophie G.) | 14 | 2.520 | 01/09/2010 - 13:10 | Portuguese | |
| Poesia/Dedicated | Poeta de Mil Sonhos | 12 | 1.844 | 01/09/2010 - 13:07 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Traços Indeléveis | 18 | 1.995 | 01/06/2010 - 23:30 | Portuguese | |
| Prosas/Ficção Cientifica | Submundos | 6 | 2.784 | 01/06/2010 - 14:20 | Portuguese | |
| Prosas/Others | Silêncios | 8 | 2.164 | 01/04/2010 - 11:37 | Portuguese | |
| Poesia/Meditation | Marcas | 14 | 1.764 | 01/04/2010 - 10:27 | Portuguese | |
| Prosas/Others | Caminhos | 5 | 1.912 | 01/03/2010 - 23:01 | Portuguese | |
| Poesia/Dedicated | Chá Para Dois? (P/Anamar) | 14 | 1.060 | 01/02/2010 - 14:54 | Portuguese |






Comments
Re: Onde tudo É
Adorei lindo o seu poema.
a sua ercrita irradia beleza
brijo 8-)