A VIDA É UM SONHO

Mão na mão.
O Abraço.
O beijo.

O areal imenso.
O piar das gaivotas.
O cheiro intenso,
Quase lascivo,
Da maresia.

No ar,
A espuma volátil
Que se solta das ondas
e se eleva do mar
A ensaiar danças, no ar,
Nos braços do vento
Que ao mesmo tempo
Nos lança ao rosto
Minúsculas gotas
De água salgada
Para temperar os beijos
Que vamos trocando,
Enquanto abraçados,
Percorremos felizes
A praia deserta.

No horizonte
O sol mergulha
Nas águas douradas
Do oceano,
Enquanto na praia
As ondas beijam,
E penetram,
Suavemente
A areia porosa,
Num quadro erótico
Que a natureza capricha
Em nos oferecer.

E nós, abraçados,
Contemplamos,
Extasiados,
A sensualidade
Que nos envolve,
Que nos inspira,
E agita os sentidos.

Lá no alto, uma casa,
A nossa casinha,
E lá dentro, no quarto,
E uma cama quentinha
Que espera por nós.

Já nada nos prende
Àquele areal,
E de mão dada
Corremos na praia
Em direcção ao calor
Da cama
Que nos chama
Lá no alto
No quarto da nossa casinha.

Um abraço.
Um beijo,
Outro
E mais outro
E outros se seguem.

Os corpos colados.
A respiração ofegante
Mistura-se com o piar das gaivotas
Pousadas na praia
Agora só delas.

O movimento dos corpos
Ao ritmo lento e cadenciado
Das ondas a açoitar os rochedos.
A mistura dos sons,
Do mar em fúria
E dos corpos em brasa
Confundem-se no ar.
São gemidos, são ais,
São gritos depois,
São pedidos de mais,
Cada vez mais intensos.

Como fundo,
O fragor do mar
A fustigar as arribas,
A acompanhar
O som dos corpos, em “luta” frenética,
Em busca do prazer supremo
Na consumação do amor.

Pela janela,
Aberta de par em par,
A maresia invade o quarto.
E depois da loucura final,
Em apoteose
Reina no ar um silêncio total.
São dois corpos unidos,
Olhares de ternura,
Sorrisos nos lábios
E um abraço apertado.
Apenas se ouve
Num leve sussuro:
- Obrigado amor
Pelo amor que me dás
E por me fazeres feliz.

Já de manhã
Pela janela
Entram brilhantes
Os raios de Sol.

Abro os olhos,
Estendo os braços
Em direcção ao teu corpo,
Mas tu não estás lá.

Inquieto,
Olho para o lado
E vejo,
Desanimado,
A cama vazia.

Afinal, dessa noite perfeita
Apenas resta
O ruído das ondas,
O som das gaivotas
E a maresia.
O resto?
Foi só um sonho,
Um sonho lindo
É verdade,
Mas apenas um sonho.

Desapontado,
Olhei para o lado
E vejo caído no chão
Um véu transparente.
Em cima da cama,
Por entre os lençóis,
Um fiozinho de prata
E um colar de missangas
A acompanhar um poema.

Ah! O poema longo,
Ao longo do qual
Eu me deito e medito.
O poema com que me excitas
E incitas
A sonhar contigo.
O poema que inspira os meus sonhos,
Que são sonhos apenas.

Mas que interessa?

É com sonhos que se controi uma vida de sonhos.

Submited by

Saturday, December 12, 2009 - 17:36

Ministério da Poesia :

No votes yet

GuiDuarte

GuiDuarte's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 13 years 22 weeks ago
Joined: 12/07/2009
Posts:
Points: 237

Add comment

Login to post comments

other contents of GuiDuarte

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Fotos/Profile 2336 0 1.778 11/24/2010 - 00:48 Portuguese
Ministério da Poesia/Meditation BALANÇO DE UMA VIDA 0 1.909 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Love AO LONGO DE NÓS 0 1.996 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Love OS BANCOS VAZIOS 0 1.779 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism UMA NOITE NA CIDADE 0 1.850 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General NAS ASAS DO SONHO 0 1.867 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism A OBRA-PRIMA 0 1.886 11/19/2010 - 19:09 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism ESTOU TRISTE 0 1.751 11/19/2010 - 19:09 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism O BANCO, A MUSA, O BALOIÇO E A NUVEM. 0 2.138 11/19/2010 - 19:09 Portuguese
Ministério da Poesia/Passion SENTI-TE 0 1.805 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Fantasy UM SONHO, UM MANTO, UM FIO DE PRATA E UM COLAR DE MISSANGAS 0 1.889 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism ÉDOMINGO 0 1.780 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Love A CIDADE, O POEMA E AS NUVENS BRANCAS 0 1.787 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism A MULHER E A FLOR 0 1.721 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism DEUSA NUA 0 2.467 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism LÁGRIMAS 0 1.965 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism A AUSÊNCIA OU A DISTÂNCIA 0 2.017 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism DEVANEIO 0 1.981 11/19/2010 - 19:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Fantasy A VIDA É UM SONHO 0 1.616 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Love CINQUENTA ANOS MAIS TARDE 0 1.847 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Sadness QUANDO O FAROL SE APAGOU 0 1.856 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Love CINQUENTA ANOS MAIS TARDE 0 1.897 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism OS POETAS NUNCA MORREM 0 1.807 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism SER POETA 0 1.550 11/19/2010 - 19:06 Portuguese
Ministério da Poesia/Aphorism SINTRA 0 2.020 11/19/2010 - 19:06 Portuguese