O último gesto

Negra risca embebida em mercúrio,
abalada raiva na câmara de vigilância
deve ser traje de mau augúrio
considerado em discrepância.
.
Verde-mar de armas libertinas,
areal esperado pelo odor...
vestígio de moedas purpurinas
num tesouro sem calor.
.
Ajuda-me a saltar do céu
e cair sobre as ervas do prado
não me cubras com o negro véu
de olhar para o outro lado.
.
Nesta imagem desfocada
alguém me tenta sufocar...
A bainha rasga-se no nada
e continuas sem me olhar.
.
Açoitas-me o pobre coração
com o desprezo gladiador
nem o escudo da vibração
Acalma esta imensa dor.
.
Solto dos pés as sandálias
grito ao mundo tudo o que sinto...
Cambaleando em represálias
que me queimam como abssinto.
.
E da esperança sobram pedaços,
com lágrimas de emoção!
Mas seguro nos dedos os laços
e resisto ao último gesto do carvão!

rainbowsky