Sem título(20)
A mulher que vem da estátua
Esculpida com ancestrais mãos
Em corpo etéreo
Com mares nos seios
De desejos perenes
Junto água e flores
Na rota do gozo
De navegar sem bússola
E naufragar de desejo em flor
Eu colo o desejo
No jardim suspenso do prazer
E na tua rosa pressinto laivos faíscantes de loucura
De entrega
De abandono e dádiva na face da lua
Agora é já ouro
Realizado ouro
No templo do alquimista
Os olhos no mais alto do sol
O amarelo mirífico do desejo
Depois do sol
A noite é ouro novo onde eu renasço
Tomo a lua de amarelos intermitentes
Pinto com a canção dos loucos
A imagem feminina
Uma tela livre
Livre em todos os quatros elementos
O fogo por dentro da terra
O ar por dentro do mar
Agora estou ausente
Estou fechado por dentro
Assim é a estátua de pedra pura
Viva pelo toque de magos poderes
Fechada por dentro do próprio segredo
Inexpugnável
Como quase um blindado corpo
E no entanto alcança o movimento
Move-se pela subtil força
Do encontro predestinado
Tenho a chave
Julgo ter a chave
Estou fechado por dentro
Nas mãos um único poder abandonado
Abrir o mundo
Dar vida á estátua
O sal cresce por dentro da casa
E eu não gosto do poder
Eu não gosto de poderes outorgados
Deixem-me apenas ter poder
Para não poder mais nada
Soltem os cães dos sentidos sobre mim
E deixem-me
Lasso
Balouçando
De choque frontal
Caído na sarjeta
Nada de mentiras piedosas
Estou farto
Eu sei
Eu vejo
Ainda posso discernir
A estátua
A mulher
Sentada no mar
No centro do mundo
Jogo o jogo das palavras sucessivas
Noite
Lua
Ouro do campo amarelo de flores
Com cheiros de sexo ou castidades
E a estátua sorri
Entendem célere
A minha incapacidade em tocar na figura de pedra
Não serei o escolhido escultor
Perdi o tempo
Minhas mãos são de sal
De sal ao sol do dia quente
Minhas mãos são de sal desfeito
Se eu cerrasse os olhos
Com a força do peso do mundo
Como quem morre de tudo ter visto
Se eu cerrasse os olhos
Cessava o sal de me invadir
Destino é nada ver de olhos abertos
E ser de sal e da permanente ausência do mundo
Mas se estivesse fechado por fora
Se ousassem fechar-me a porta
Como numa prisão dos Homens
Jamais saberia ser
Como a saber se pode ser prisioneiro
Só eu posso ser o carcereiro de mim próprio
Com as chaves nas mãos desfeitas
Ou a chave errada nas mãos inúteis
Fecho-me por dentro se quiser
Se quiser ando fechado no meio do mundo
Na forja deito a ideia em metal
Incandescente
Moldando a chave
Eu falo para mim
Eu falo por mim
Pergunto e respondo
Para que serve uma chave sem as mãos de saber abrir
Para que serve a cabeça com a boca de sorriso por haver
Para que serve um olhar sem olhos de reflectir
A estátua sorri agora
Na clareira do bosque
Sob o sol lilás
Com o mar laranja aos pés
Livre por ela própria
Livre por ser mulher
Dionísio Dinis
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 760 reads
Add comment
other contents of Dionísio Dinis
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Sem título(21) | 0 | 1.019 | 02/25/2011 - 05:42 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(19) | 0 | 852 | 02/24/2011 - 20:46 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(18) | 0 | 966 | 02/24/2011 - 20:04 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(17) | 0 | 1.124 | 02/24/2011 - 19:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(16) | 0 | 789 | 02/24/2011 - 07:01 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(15) | 0 | 970 | 02/24/2011 - 06:58 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(14) | 0 | 591 | 02/24/2011 - 06:56 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(9) | 1 | 861 | 02/24/2011 - 00:21 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(10) | 1 | 924 | 02/24/2011 - 00:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(11) | 1 | 1.148 | 02/23/2011 - 23:15 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(12) | 1 | 935 | 02/23/2011 - 22:59 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(13) | 1 | 824 | 02/23/2011 - 22:52 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(017) | 2 | 1.141 | 02/23/2011 - 20:41 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(014) | 2 | 1.028 | 02/23/2011 - 20:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(015) | 2 | 870 | 02/23/2011 - 20:26 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(013) | 2 | 1.377 | 02/23/2011 - 20:22 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(011) | 2 | 1.228 | 02/23/2011 - 20:14 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(05) | 3 | 883 | 02/23/2011 - 20:02 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(8) | 0 | 1.039 | 02/23/2011 - 19:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(6) | 1 | 1.158 | 02/23/2011 - 12:23 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(7) | 1 | 814 | 02/23/2011 - 12:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(5) | 2 | 968 | 02/23/2011 - 00:52 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(4) | 1 | 680 | 02/22/2011 - 22:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(3) | 1 | 955 | 02/22/2011 - 21:57 | Portuguese | |
Poesia/General | Sem título(2) | 1 | 793 | 02/22/2011 - 21:24 | Portuguese |
Comments
Gostei imenso de te ler ,
Gostei imenso de te ler , quantas mulheres são estátuas vivas
assim como o mar tem seus mistérios e se movem quando querem.....
Um BEIJO
Susan
É sempre prazer maior ter a
É sempre prazer maior ter a honra dos seus comentários.
Abraço fraterno