GAGO SILÊNCIO QUE O PENSAMENTO FALA

Na lama vai o frio que confesso.

Não sou essa névoa de gelo
em que escorregam palavras tristes.

Creio-me pântano negro, seguro.
Mas sou prado verde, imaturo.

De lado vai o tempo que engano.

Não sou essa eternidade
que tique-taca estática nas entrelinhas da poesia.

Faço-me de precipícios em enredo.
Mas sou planície em segredo.

Aluída vai a mentira que finjo.

Não sou essa fada
de condão mágico que turva
direcções de rosas onde vírgulas são voltas sinuosas.

Vejo-me cruz de ódio com olhos de rapina.
Mas estou num mar de amor, mesmo que farol na neblina.

Estrábica vai a voz das alíneas.

Não sou esse gago silêncio
que o pensamento fala em sons de chuva
sobre as tempestades nos olhos das musas.

Sinto-me só, bonança.
Mas vivo como multidão
por entre as multidões, criança.

Barato se apressa o preço de ser numa lágrima.

Não sou essa saudade
com que o sol da alma bronzeia
as latitudes pálidas de nada do corpo.

Sei voar como um louco, arrivista.
Mas é no chão que cresço homem, romântico à vista.