PILDRA DE BOCAS EM GRITO

Desinserida sonância,
desinspirada música em canto que não escuto.

Em som de mó me encurto,
moinho em eco de águas passadas.

Encanto que não vejo.

Entretanto emagrecido, despigmentado, ardido.

Missiva que me encerra em adeus,
palavra de pedra atirada aos céus.

Manto que me engana,
ilusões em corda que me esgana.

Cinto que me aperta mudo,
sinto que me aparta de tudo, em migalha.

Agulha na palha,
faúlha exausta no fio da navalha.

Flauta de afino em falta,
sopro enxuto no pântano da lágrima.

Pé de vento descalço,
desenlaçado da esquina onde uiva o tempo.

Destemperado tiquetaque dos olhos, rodopiados
quais ponteiros do relógio pelo ar rarefeito.

Efeito desalinhado, pildra de bocas em grito.

Estrela do céu apagada,
desaguada no espinho de uma rosa sem cor.

Estrela-do-mar afogada, plantada em areias imovediças.

Candeias vergadas ao instante,
burburinho de estante desarrumada em escada.

Gente despessoada, trovoada em cicatriz.