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A Praia da Espera
Andávamos à beira-mar, por volta das oito e meia da manhã. Claudia estava radiante. Observávamos o Farol das Conchas, distante, lá na Ilha do Mel. Passamos por um pescador. Tarrafa aos ombros, esperava por algo, paciente. Logo passamos por outro. Também esperava.
Por um momento lembrei-me de quando aprendi a pescar com tarrafa. Tinha escassos quinze anos. Esperava viver bastante. Mas não me lembrava de esperar tanto tempo sem jogar a rede. Assim como não me lembrava de ter pegado peixe na tarrafa. Naquela espera devia haver ciência.
Aproximei-me do pescador e o cumprimentei. Perguntei sobre o mistério da espera. Seu Hélio, este era o nome dele. Pescador muito simpático, começou sua aula matinal. Era preciso observar. Havia uma sardinha pulando vez por outra. Mas era uma só. Era preciso que houvesse mais delas. Então seria um pequeno cardume. E valeria a pena jogar a rede. A cavalinha vinha surfando na crista da onda. Um pequeno grupo daria um bom almoço. Já a cavala verdadeira aparecia nos bordos de um grande arrasto, tentando se juntar ao cardume preso. Então era possível pegar muitas. Só se devia jogar a rede quando compensasse. Havia arte na espera. A arte da paciência. A arte de observar as ondas, os pequenos movimentos das águas, os pulos quase invisíveis dos pescados, que esperavam o momento certo para saltar.
Seu Hélio estava lá, esperando. Quem sabe apareceria alguém para conversar, para perguntar sobre a pescaria. Os peixes estavam lá, esperando. Quem sabe Seu Hélio iria embora. Eu e Claudia estávamos lá, esperando. Quem sabe Seu Hélio pescaria algum peixe, logo, logo. Esperávamos todos.
Eu e Claudia deixamos o pescador e sua pesca. Fomos até o fim da faixa de areia, que terminava em um canal de pedras, de onde as barcas partiam para a ilha e chegavam rumo à Pontal. As pessoas estavam lá, na ilha, esperando. As pessoas estavam ali, em Pontal, esperando. Vimos um navio indo para o porto, outro voltando. Os marinheiros esperavam. Os timoneiros das balsas estavam lá, esperando a travessia do navio. As gaivotas estavam lá, esperando os restos. Resolvemos voltar.
Seu Hélio continuava lá, esperando. O navio passava em frente, enorme. Os peixes continuavam esperando. Os moradores estavam lá, esperando pelos peixes. O almoço estava esperando.
Eu e Claudia continuamos em nosso caminho de volta. Esperávamos que Seu Hélio pegasse algum peixe. A maré havia esperado a gente passar. Agora estava alta. As areias, que haviam passado a noite esperando, recebiam as águas felizes. Nossos anfitriões deviam estar esperando por nós em casa. Nós esperávamos que o almoço estivesse encaminhado.
Almoçamos e esperamos o sol baixar. Enquanto isso, dormitamos esperando ter sonhos bons. Acordamos de tardezinha esperando que o mar estivesse tão agradável quanto pela manhã. O mar esperava por nós. Lá, no mar, esperávamos pelas ondas. Nadávamos sobre elas como os peixes, como as cavalinhas que Seu Hélio esperava pela manhã.
O dia, que havia passado a noite esperando ansiosamente por nascer, renascia esperando a volta da lua. E a lua esperava que o sol se cansasse logo, para poder brilhar enquanto esperava o novo dia. O vento esperava que o mormaço fosse embora para poder cantar livremente. O mormaço esperava por ali, sentado nos ombros das pessoas. As pessoas esperavam que aquele dia não acabasse nunca. Esperavam que não houvesse segunda-feira.
Enfim, depois de muita espera, nascia a lua cheia, antes mesmo de esperar o sol se pôr. Estavam todos ali reunidos. Parecia que todos estavam ansiosos, a espera de alguma coisa.
Talvez todos estivéssemos esperando por fazer voltar o tempo, revivendo aquele mesmo dia, esperando as mesmas coisas boas vividas até aquele fim de tarde. Mas aquele dia não havia esperado, havia passado.
Na volta, esperávamos, todos, que todas aquelas esperas não abandonassem nossa memória.
Para podermos esperar ansiosamente pela volta. Quem sabe na semana que vem. Espero.
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