O quarto escuro
O quarto escuro
Na escuridão do quarto está a música.
Dentro do corpo está a dor.
No silêncio da alma moram os desejos.
Na escuridão do quarto estão os objetos
e dentro deles está você.
Meu corpo é meu quarto, onde moro,
onde vivo, onde morrerei.
Dentro dele está minha dor.
E minha dor é uma música sem fim...
Minha dor é meu chão. Se não há quarto
sem chão, não há vida sem dor;
não há música sem o silêncio, não há efeito
sem a causa...
E na escuridão do quarto estão meus lamentos.
Dentro de mim corre meu sangue e com ele
palavras brotadas do meu desespero ardente
que corrói minhas veias e corrompe minha razão.
Já não possuo razão.
Possuo apenas palavras escarlates
e horas de sofrimento.
Não possuo dentes para sorrir,
não possuo você...
Vejo as coisas que lhe possuem, apenas isso.
Você está na escuridão do quarto;
nos objetos escuros, roupas carentes
de corpos, na janela fechada.
Está em toda imensidão sem luz,
mas não está comigo.
Então faço o que me cabe, desfaço-me do meu corpo,
deixo que se desintegre o irracional de mim,
entrego minhas partículas a escuridão,
como a música se entrega ao silêncio.
Pertencerei às sombras de todos os quartos;
estarei onde a noite é infinita.
Serei da dor um filho
e do silêncio um devoto.
Poderei assim, quem sabe, estar um passo mais perto de você.
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