CARDO CONDESCENDENTE

O tempo. Engrenagem de contagem para algures inverso.
Ponto e vírgula. Ampulheta que desconta o peso à espera.

O sol. Fogo em quase esfera. Pai da vida…
Fera que de tão longe me fere os olhos.

Fracções de pois depois. O mundo.

Proficuidade que pinta os arco-íris.
Águas ilíquidas que dão perfume às flores.
Raízes carpidas que mantêm as árvore de pé.

A noite.
Senhora vestida de breu.
Híbridas sombras das estrelas.

Cardume de silêncios lunáticos. Luares aquáticos.

O vento. Máquina que empurra.
Companheiro que esmurra solidões.

Ouvir que fala as vozes que não queremos ouvir.

O sentir. Brisa que semeia no rosto a tristeza.
Grito que molda e destrói os desertos.
Cardo condescendente.

Calafrio que desenha os desenhos do seu frio.
Escuro em queda por toda a parte.
Canção que crispa as ondas.

Suspiro que penteia e despenteia o pensamento.

As lágrimas.

Feitas de alma. Gotículas que vertem de si pedras.
Distância derrocada pela encosta da saudade.

Esférulas concluídas em dor. Pingue-pongue num chão incerto.

Incerteza a céu aberto. A tristeza.
Navalha que trilha o corpo.
Rasgo rompante.