SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS
Fronteiras
se destacam
em desigualdades: ambos os lados
se ofendem em salvaguardas
a diferenciação dos corpos
sobre mentes distantes
uma cerca
um rio
uma ponte
um sorriso
e uma morte
a ilusão de que a diferença
sobreposta ao gesto
gosta do que vê
ouvir hinos diferentes:
considerar verbos
e saber que a distância
se estende em capitais
além da compreensão
de leis
e ordens
desordenadamente
repetidas na singularidade
das roupas sóbrias
na sobriedade do acaso
no ocaso das dificuldades
a quantificação entre possibilidades
permite acompanhar olhos dispostos
na linha de defesa: o ataque solidário
dos animais indistintos em sotaques
afrontar a terra ao lado
ladear a conquista do território
tornar terra inconquistada
quando olhar ao horizonte desprezar
a cerca
acercar-se
do que pode ser a igualdade
talvez os deuses sejam os mesmos:
a contrição igual
o pecado original
a culpa acidental
não se remoer pelo outro
nem reacender a chama
nem rescender o perfume
da fruta aqui
e ali
perpetradas
em árvores
singulares
fronteiriça: a linha imaginária
se realiza na alça de mira
olhares alcançam horizontes
humanamente desprovidos
da largura
da profundidade
do aprofundamento
naturalmente
colocados
pela ação
da terra
ante
o tempo
assim considerado
seus olhos repousam sobre os meus olhos
seu corpo disposto em alinhamento
seu sexo ocultado em uniformes
a uniformidade conduz o desgosto
no sofrimento pela (não) passagem
conserva a esperança de ser irmão
e irmã: sem servidão destacada
na aridez do solo
na serventia do caminho
na solidão
frente a frente: em frente ao consolo
repousam mãos elevadas em entrega
consumir o espaço: cada dia entender
(ou sonhar) o despropósito: descoser
a linha: esgarçar a distância
em romperes de aurora
acordar ao lado e saber-se
estrangeiro.
(Pedro Du Bois, inédito)
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 1314 reads
Add comment
other contents of PedroDuBois
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | ARMAZÉM DAS PALAVRAS | 1 | 1.216 | 05/24/2009 - 01:00 | Portuguese | |
Poesia/General | MOSCA TONTA | 2 | 1.265 | 05/22/2009 - 16:49 | Portuguese | |
Poesia/General | INVIOLÁVEIS | 6 | 1.418 | 05/21/2009 - 02:28 | Portuguese | |
Poesia/General | SERES | 6 | 1.396 | 05/20/2009 - 19:04 | Portuguese | |
Poesia/General | WORDS | 4 | 1.290 | 05/19/2009 - 15:49 | Portuguese | |
Poesia/General | SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS | 4 | 1.314 | 05/18/2009 - 13:28 | Portuguese | |
Poesia/General | O JARDIM DO LABIRINTO | 1 | 1.322 | 05/12/2009 - 22:29 | Portuguese | |
Poesia/General | LEMBRAR | 0 | 1.237 | 05/11/2009 - 20:54 | Portuguese | |
Poesia/General | SEMPRE MULHER | 1 | 715 | 05/10/2009 - 02:48 | Portuguese | |
Poesia/General | SOBRE OS DIAS LONGOS | 1 | 1.296 | 05/09/2009 - 13:18 | Portuguese | |
Poesia/General | ADEUSES | 1 | 1.251 | 05/05/2009 - 13:03 | Portuguese | |
Poesia/General | RECEITAS | 1 | 1.446 | 05/05/2009 - 13:02 | Portuguese | |
Poesia/General | A RECRIAÇÃO DA MÁGICA | 1 | 938 | 05/03/2009 - 01:17 | Portuguese | |
Poesia/General | ÉPOCAS | 1 | 1.233 | 05/03/2009 - 01:11 | Portuguese | |
Poesia/General | SERES | 1 | 1.157 | 05/01/2009 - 02:04 | Portuguese | |
Poesia/General | ESFORÇO | 1 | 992 | 04/29/2009 - 02:14 | Portuguese | |
Poesia/General | O TODO | 1 | 728 | 04/28/2009 - 17:29 | Portuguese | |
Poesia/General | A RESPEITO DE PROBLEMAS | 1 | 1.307 | 04/26/2009 - 13:34 | Portuguese | |
Poesia/General | REGISTRO | 0 | 2.306 | 04/23/2009 - 04:55 | Portuguese |
Comments
Re: SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS
O limiar da qualidade humana
é a ofensa entre ambos os lados!!!
:-)
Re: SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS
Que fantástico poema sobre a nossas diferenças!
Re: SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS
«acordar ao lado e saber-se/estrangeiro.»
Pedro Du Bois,
Belo o poema sobre as fronteiras exteriores (que as interiores são muito mais difusas e obscuras: quantas vezes acordamos dentro do país, de nós próprios, e nos sentimos exilados, para não dizer estrangeiros).
Domingos da Mota
Re: SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS
Gostei imenso
Uma fronteira, o limite, somente calcar e sentir o prazer emanado do outro lado :-)
"acordar ao lado e saber-se estrangeiro"
Muito criativo
Abraço