A flor deixada na lápide de Augusto dos Anjos

Em resposta ao seguinte soneto do caro Cortílio, o meu soneto quanto a A flor deixada:

A flor deixei na lápide de Augusto dos Anjos
Cheguei cedo e esperei o abrir do portal
(vim de longe e subi cada degrau
com meus pés descalços) e a pequenina
porta secou-me a boca em Leopoldina.

Perguntei ao coveiro sobre o local
e nervoso segui ao esperado vau.
Cheguei à lápide branca, alabastrina;
chorei e solucei como uma menina...

Vi a calma deitada em paz imortal
na morada perpétua. Ouvi a ideal
inspiração eternizada da rima.

Vi um Augusto contente na sua sina
(comido, vertido, feito fecal)
e a Flor deixei na pedra glacial.
Amigo, deixo meu abraço desse modo, já que conversamos sobre Agto. dos Ajs.

Cortílio

A flor deixada na lápide de Augusto dos Anjos
Cedo chegaste, contudo não mais importa...
Tivesse sido amanhã ou mesmo sido agora
Ele se foi à frente de todos nós, à sua hora.
Os pés sobre a rocha que nada mais comporta

Puseste e então deixaste um rastro da tua Flora:
Tal uma lamúria pela gente que jaz morta
O vento sopra, as irmãs da tua Flor entorta
Sobre a gelada terra onde cada uma aflora...

Adentraste com as plantas dos pés descalças,
Atravessaste um vértice ao plano etéreo
Ao por os teus pés na sua gélida sepultura:

Presenciaste nossa libertação da desgraça,
Vislumbraste a resposta ao imenso mistério
Que da folha do Tamarindo habita a nervura!...
05 de outubro de 2012 – 19h 35min
João Pessoa  -  Paraíba  -  Brasil

Adolfo J. de Lima

Submited by

Monday, October 8, 2012 - 12:18

Poesia :

Your rating: None (1 vote)

Adolfo

Adolfo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 1 year 18 weeks ago
Joined: 05/12/2011
Posts:
Points: 3582

Comments

Cortilio's picture

Amigo: a Flor deixamos sobre

Amigo: a Flor deixamos sobre a sua obra. Descansemos em paz.

Add comment

Login to post comments

other contents of Adolfo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Dedicated Chemistry II 2 1.980 07/27/2011 - 20:23 Portuguese
Poesia/Sonnet Não rezo 0 1.884 07/26/2011 - 21:32 Portuguese
Poesia/Sonnet Saudade 0 1.548 07/26/2011 - 20:01 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas VII 0 1.837 07/24/2011 - 23:00 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas VI 0 1.493 07/24/2011 - 22:59 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas V 0 1.483 07/24/2011 - 22:57 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas IV 0 1.657 07/24/2011 - 22:55 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça às escondidas III 0 2.494 07/24/2011 - 22:52 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas II 0 1.321 07/23/2011 - 04:18 Portuguese
Poesia/Sonnet No banco de uma praça as escondidas 0 1.863 07/23/2011 - 04:09 Portuguese
Poesia/Sonnet Bom dia! II 0 3.016 07/23/2011 - 03:56 Portuguese
Poesia/Sonnet O amor... II 2 2.524 07/23/2011 - 02:30 Portuguese
Poesia/Sonnet Tributo a Augusto dos Anjos VII – Devorador de sonhos 0 2.622 07/23/2011 - 02:07 Portuguese
Poesia/Sonnet Tributo a Augusto dos Anjos VI ─ Justiça 0 3.014 07/23/2011 - 02:05 Portuguese
Poesia/Sonnet Olha 0 1.432 07/19/2011 - 01:20 Portuguese
Poesia/Sonnet “Nas noites frias poderia ser como um cobertor” 0 1.909 07/19/2011 - 01:05 Portuguese
Poesia/Sonnet Grilo 0 2.055 07/19/2011 - 01:03 Portuguese
Poesia/Dedicated Somos feito a lua e o mar 0 1.695 07/19/2011 - 01:01 Portuguese
Poesia/Dedicated Ciúmes III 0 1.284 07/19/2011 - 01:01 Portuguese
Poesia/Love Amo II 0 2.257 07/19/2011 - 01:00 Portuguese
Poesia/Love Chuva de verão 0 1.775 07/19/2011 - 00:59 Portuguese
Poesia/General About Me II 2 1.815 07/19/2011 - 00:51 Portuguese
Poesia/Sonnet Chuva cai 0 2.262 07/13/2011 - 02:07 Portuguese
Poesia/Sonnet Frio infernal 1 2.078 07/12/2011 - 01:35 Portuguese
Poesia/General Tédio Parte II 1 1.519 07/10/2011 - 21:35 Portuguese