O Imprevisto
Fui criada em uma época em que os nossos pais nos orientavam dizendo exatamente o que era preciso fazer. Nunca imaginaram que as coisas podiam ser diferentes e nem tampouco nos deixavam a chance de decidirmos por nós próprios. Se ousássemos fazer algo diferente e o tiro saísse pela culatra, como era costume se dizer, aí então não éramos capazes de resolver nada sozinhos. E acreditávamos que era assim mesmo que as coisas aconteciam.
A primeira viagem que eu fiz sozinha, devia ter meus doze, treze anos, aconteceu o meu primeiro imprevisto. Meu pai era motorista de ônibus, nessa época e conhecia bem todos as empresas e motoristas. Então tudo o que eu devia fazer era simplesmente embarcar e esperar que chegasse ao destino e o motorista me dissesse: aqui é o fim da linha. Minha mãe me orientou para que eu descesse na rodoviária, fosse até a lanchonete do meu tio, que ele me levaria para casa. Não devia falar com ninguém durante a viagem, sob hipótese alguma. Havia uma sub-estação que ficava na entrada da cidade e lá estava a minha prima Nadja a minha espera. Ela me disse pela janela do ônibus, que era para eu descer e ir para a casa dela. Eu disse que não podia, pois a minha mãe havia dito para ir para a casa da outra tia. Então a minha prima argumentava: você não veio para o meu casamento? Eu respondia que sim. E ela então dizia que tanto fazia eu ir para a casa dela como ir para a casa da outra tia, que ia dar no mesmo. Eu não conseguia decidir, porque precisava fazer exatamente como a minha mãe havia dito que fizesse. E agora, José? José, para onde? (relembrando uma música que falava mais ou menos nisso). Tanto ela insistiu que eu acabei descendo uma estação antes do final da linha. Mas com a consciência pesada, por fazer diferente do que haviam me dito para fazer. Hoje eu oriento os meus filhos de forma diferente. Digo sempre a eles, que se houver um imprevisto (e eles sempre acontecem), saibam qual a melhor decisão a ser tomada. Para terem sempre um Plano B, caso o primeiro não der certo. E até aqui, isso sempre tem funcionado muito bem.
Débora Benvenuti
http://colchaderetalhos13.blogspot.com.br
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2421 reads
other contents of deborabenvenuti
Topic | Title | Replies | Views |
Last Post![]() |
Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Fantasy | O TEMPO E O VENTO | 1 | 2.174 | 06/02/2010 - 23:12 | Portuguese | |
Prosas/Contos | A ÚLTIMA VEZ | 2 | 2.423 | 06/02/2010 - 22:46 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | A IMAGINAÇÃO E O TRABALHO | 2 | 1.711 | 06/01/2010 - 20:48 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | O SEGREDO E A CURIOSIDADE | 1 | 1.899 | 06/01/2010 - 15:35 | Portuguese | |
Prosas/Contos | PAPPILON | 1 | 2.488 | 05/31/2010 - 22:18 | Portuguese | |
Poesia/Love | CAMINHANDO CONTRA O TEMPO | 1 | 3.241 | 05/31/2010 - 01:10 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | O AFETO,A TERNURA E O AMOR | 1 | 2.785 | 05/30/2010 - 03:30 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | NO VALE DA DECISÃO | 1 | 1.740 | 05/28/2010 - 18:58 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | O CORAÇÃO E A OSTRA | 1 | 1.544 | 05/17/2010 - 03:16 | Portuguese | |
Poesia/Love | O TEMPO E A LUA CHEIA | 1 | 2.098 | 05/13/2010 - 20:41 | Portuguese |
Add comment