Descartes e o Racionalismo - Parte XI - O Método

 

Descartes e o Racionalismo - Parte XI -
O Método

Ao desenvolver o seu “método”, Descartes visou mais aos assuntos científicos que aos metafísicos e, por isso, algumas questões não foram contempladas pelo mesmo, as quais, no entanto, estão soberbamente tratadas no livro “Metafísica”.

Como já se disse, o livro que contém essas suas considerações, “Discurso sobre o Método”, foi alvo de variados elogios e ainda hoje é visto e consultado com regularidade por todos que buscam meios de pesquisas e de estudos que estejam isentos de elementos questionáveis.

Inicialmente exporemos de forma sintética os quatro pontos em que se baseiam a metodologia e logo adiante voltaremos aos mesmos para complementar as observações. A saber:

1) Verificar
2) Analisar
3) Sintetizar
4) Enumerar

O célebre “método cartesiano”, a princípio, pode parecer óbvio tal é o nosso costume com ele. Geralmente esquecemos que essa maneira de analisar e de se chegar a conclusões seguras praticamente inexistia antes de Descartes, cabendo-lhe, portanto, o mérito de ter organizado na Filosofia Moderna as funções racionais, colocando-as a serviço da “Verdade”.

Ao criar o seu “método”, o filósofo pretendeu estabelecer uma metodologia universal que pudesse ser utilizada em qualquer assunto. Que fosse capaz de provar com rigor as teses que vão da “existência de Deus”, do “primado da alma sobre o corpo” até o “mecanismo da corrente sanguínea”.

Ele buscava, desse modo, preparar os seus contemporâneos para que aceitassem os novos fatos que as Ciências demonstravam e que, à época, eram verdadeiros tabus, como, por exemplo, “o movimento da Terra girando ao redor do Sol”.

E por serem temas tabus, ele sabia que o seu sistema só poderia ser inspirado pela Matemática para que o rigor que nela se observa, pudesse predominar no mesmo. Sabia da necessidade de que ao seu sistema, nenhuma objeção real ou irracional pudesse ser contraposta. Seria, portanto, imperioso que o presidisse “as longas cadeias da Razão”.

A partir dessa necessidade, ele propôs que (voltando às quatro regras):

a) A primeira regra seria a Evidência; ou seja, só admitir como “verdadeiro” aquilo que for evidentemente indubitável. Consequentemente não admitir que “nenhuma coisa, ou fato, seja considerada verdadeira se não puder ser reconhecida como tal”; e, para tanto, deve-se evitar toda precipitação de julgamento, bem como toda prevenção e todo preconceito ou pré-julgamento, pois tais atitudes poderiam induzir ao erro.

b) A segunda regra é a análise que deverá ser feita em cada uma das partes que formam o “Todo”, previamente desmembrado.

c) A terceira regra é a da síntese, organizando a reflexão a partir das partes mais simples e fáceis de conhecer e progredir conforme o grau de dificuldade até se conseguir analisar o “todo” reagrupado.

d) Por fim, a quarta regra, que consiste em catalogar minuciosamente os princípios e as conclusões para se ter a certeza de que nada foi omitido ou esquecido.

Com essas quatro regras, Descartes legou ao mundo uma forma de se buscar a “Verdade” que é reconhecida como válida e importante, até nos dias atuais.

Para muitos, nela está a mais pura manifestação do “Racionalismo”, pois, se antes, sentenças do tipo: “Aristóteles afirmou que...” eram consideradas absolutamente exatas, apenas por terem sido proferidas pelo estagiarita, partir da assunção de sua Filosofia, estabeleceu-se que nem Aristóteles poderia ter a pretensão da infabilidade, não obstante o respeito devido aos grandes mestres.

Tudo, absolutamente tudo, para ser considerado verdadeiro e válido, deveria passar pelo crivo da racionalidade.

A ele, pois, se deve o “direito” de se questionar o que era inquestionável.

Contudo, seus críticos não deixaram de notar que ele excluiu dessa obrigatoriedade dois assuntos da maior importância: a Política e a Religião, que só foram submetidos ao julgamento da Razão através dos Filósofos posteriores, como Voltaire, por exemplo.

É, certamente, uma omissão grave e que provavelmente decorreu de sua posição conservadora em Política e de sua firme convicção religiosa.

Porém, ainda assim, o seu Sistema conservou todo o seu valor, pois ao descartar as informações oriundas das Sensações (captadas pelos Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato]) ele livrou o homem dos enganos que são típicos das falsas percepções.

As evidências sensíveis e empíricas (captadas pelos Sentidos e só depois racionalizadas) não são, realmente, confiáveis, haja vista o quanto os Sentidos podem ser ludibriados.

Apenas as “ideias da Razão (ie. os pensamentos racionais)” são claras e seguras. O ato de racionalizar1 é a única maneira de se chegar à “Verdade essencial ou primeira”.

No próximo capítulo falaremos sobre Metafísica de Descartes e sondaremos as suas opiniões acerca das questões mais fundamentais do homem.

Nota do Autor-1 – o “ato de racionalizar” se inicia quando a Intuição percebe diretamente os “princípios primeiros” e a Dedução veicula a evidência da “natureza simples (ie. da essência)” de algo ou de um fato.

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro. Verão de 2014.

 

Submited by

Wednesday, December 24, 2014 - 20:01

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 9 years 11 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Love Fugazes 0 2.414 12/30/2013 - 14:02 Portuguese
Poesia/Love Sonhos outros 0 2.425 12/26/2013 - 14:23 Portuguese
Poesia/Love Imperfeitos 0 2.588 12/23/2013 - 18:35 Portuguese
Poesia/Friendship Anunciação 0 4.085 12/22/2013 - 13:28 Portuguese
Poesia/Love Moça bonita 0 1.796 12/21/2013 - 14:24 Portuguese
Poesia/Love Silêncios 0 3.247 12/15/2013 - 14:37 Portuguese
Poesia/General Tempo 0 2.897 12/14/2013 - 12:47 Portuguese
Poesia/Love Esperas 0 4.289 12/09/2013 - 13:41 Portuguese
Poesia/Love Rosas da noite 0 4.082 12/06/2013 - 20:32 Portuguese
Poesia/Love Meios 0 2.350 12/04/2013 - 19:00 Portuguese
Poesia/Love Próxima madrugada 0 2.582 12/01/2013 - 19:20 Portuguese
Poesia/Love Rever 0 2.731 11/30/2013 - 11:31 Portuguese
Poesia/Love Amores Maduros 0 2.601 11/28/2013 - 13:58 Portuguese
Poesia/General A cidade e o feriado 0 4.241 11/16/2013 - 22:06 Portuguese
Poesia/General Manchetes 0 3.201 11/14/2013 - 14:01 Portuguese
Poesia/Love Tanto há 0 1.930 11/11/2013 - 20:24 Portuguese
Poesia/Love Poderia ter sido 0 3.098 11/10/2013 - 13:05 Portuguese
Poesia/General O VOO 0 3.214 10/24/2013 - 13:46 Portuguese
Poesia/Disillusion Desencanto 0 3.472 10/19/2013 - 15:56 Portuguese
Poesia/General Cem Vinicius 0 1.694 10/09/2013 - 17:40 Portuguese
Poesia/General Novos Anjos 0 2.514 10/04/2013 - 14:33 Portuguese
Poesia/Love Brasilianas 0 2.623 10/03/2013 - 19:40 Portuguese
Poesia/General Triste voo do Condor 0 1.711 09/25/2013 - 13:47 Portuguese
Poesia/Love Olhos de Mar 0 3.197 09/22/2013 - 15:59 Portuguese
Poesia/General Lua Ausente 0 3.198 09/18/2013 - 17:59 Portuguese