Nada

É preciso crer, Anjo da Morte,
que tu não me tardes.
Que as pílulas que retenho
venham ser a definitiva chave
para a paz,
que as fugas sempre me deram.
E crer é preciso,
que na escuridão do Nada,
encontrarei o breu que ocultará
o fogo-fátuo das teimosas decepções
que substituem as esperanças teimosas.
O escuro do Nada eterno,
em contraponto à claridade
das mesquinhas paixões
que o mundo a todos obriga,
no eterno e insensato compasso
de querer, sem que se saiba porque se quis.
É preciso crer que findará a rude tragédia,
que eu, falto da antiga grandiosidade grega,
represento nas sórdidas ágoras
desse tempo pobre.
É preciso cerrar os ouvidos
e não ouvir as reprimendas de crédulos e incrédulos,
pois são inocentes e só repetem
as antigas e sacras maldições e as novas bobagens
que os manuais de autoajuda lhes ensinam.
É preciso fechar os olhos
e isentar-me do triste espetáculo
das faces que se julgam
apropriadas censuras e sinceras tristezas.
E é preciso, sobretudo, não ver
o tétrico desfile das lágrimas convenientes.

Então, Anjo da Morte, depois de tudo crido,
gozar o vazio que tu me promete
e sentir a leveza de já não ser.

Submited by

Thursday, July 7, 2016 - 16:34

Poesia :

No votes yet

fabiovillela

fabiovillela's picture
Offline
Title: Moderador Poesia
Last seen: 7 years 31 weeks ago
Joined: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Login to post comments

other contents of fabiovillela

Topic Title Repliessort icon Views Last Post Language
Poesia/Love Lábios 5 529 07/31/2010 - 01:00 Portuguese
Poesia/Dedicated A Atriz 5 1.657 10/19/2012 - 14:28 Portuguese
Poesia/Sadness Madrugada 6 565 12/06/2009 - 00:13 Portuguese
Poesia/Dedicated Natal, violino e o homem 6 1.065 01/08/2010 - 13:02 Portuguese
Poesia/Fantasy Colibri 6 1.130 12/25/2009 - 15:42 Portuguese
Poesia/Love Deusa 7 1.991 12/23/2009 - 19:36 Portuguese