No meu espírito chove sempre,

(Rainer Maria Rilke)
No meu espírito chove sempre,
E justamente como eu quero,
Chuva triste, anónima a chuva,
Anónimo eu, será que existo nela
Ou entre mim e eu, há um fosso
Cavado e eu parado recurvado
Assomo o poço, aceno, sou eu
Por baixo, o rasto da lua cheia
No escuso fundo, meu futuro
Uma nau, pavio apagado, navio
Sem pavilhão nem passado, porto
De abrigo sob estandarte inimigo.
No meu espírito sempre chove,
Chuva forte corpo enlameado, nu
Por fora e por dentro sem vida,
Inda um riso forçado na boca,
Contragosto em forma dúbia,
Indefinido, a ele fiquei preso,
E à dúvida de mim mesmo eu
Ser, quando mordo me belisco
Neste ou num mundo outro,
Onde eu entrei sem ser ouvido,
Ou visto a sair, sem dele sair,
Pois serei quem sempre fui,
Desconhecido justo com’quero
Brisa ou vento, nuvem sobre
A floresta, por debaixo quem
Me lembra acabará esquecendo,
Assim como um caminho rural
Mal calcado se quer esquecido
Por não pertencer a ninguém,
Nem vivalma seguir por ele.
Joel Matos, Junho 2025
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No meu espírito sempre
No meu espírito sempre chove,
Chuva forte corpo enlameado, nu
Por fora e por dentro sem vida,
Inda um riso forçado na boca,
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